O Primeiro Presidente da República de Angola, António Agostinho Neto, vai dar nome a uma das avenidas da cidade da Praia a partir de sábado, anunciou hoje a Embaixada angolana na capital cabo-verdiana.
Em nota enviada à agência Lusa, a Embaixada explica tratar-se de uma iniciativa da Câmara Municipal da Praia, sendo “mais uma homenagem ao estadista angolano, médico e poeta, pelo contributo que deu para as relações de amizade e cooperação entre Angola e Cabo Verde”.
“Agostinho Neto teve uma marcante temporada em Cabo Verde tanto na ilha de Santo Antão como na ilha de Santiago, onde esteve preso, sendo na altura, uma das figuras mais vigiadas pela Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE), polícia política do sistema colonial português”, recorda a nota.
Agostinho Neto (1922-1979), foi o primeiro Presidente de Angola, cargo que exerceu de 1975 a 1979, e passará a dar nome a avenida na cidade da Praia, em Lém Ferreira, numa cerimónia de inauguração agendada para sábado, às 10:00 locais (11:00 em Lisboa) com a presença da embaixadora de Angola, Júlia Machado, e do presidente da Câmara da Praia, Francisco Carvalho.
A Embaixada de Angola em Cabo Verde tem realizado várias iniciativas no âmbito do programa de comemoração do centenário de nascimento de António Agostinho Neto, que culmina este sábado.
Depois de preso em Luanda, o então médico e político foi deportado para Cabo Verde no início dos anos 1960, continuando a exercer medicina nas ilhas de Santo Antão e Santiago, antes de ser transferido para as prisões de Aljube, em Lisboa.
O nome de António Agostinho Neto foi atribuído ao maior hospital de Cabo Verde, na Praia, há uma rua com o seu nome na cidade do Mindelo, em São Vicente, e um busto na cidade da Ponta do Sol, em Santo Antão.
O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, lembrou no início deste mês a presença “extraordinariamente importante” de Agostinho Neto no país, entendendo que o arquipélago seria “mais pobre” sem o contributo de Angola e do seu primeiro chefe de Estado.
“Em momentos decisivos, Angola deu um contributo importante. Portanto, sem Angola, sem a amizade de Agostinho Neto — e ele deixou as impressões digitais aos novos líderes angolanos — hoje Cabo Verde seria, com certeza, um país mais pobre”, sublinhou o chefe de Estado cabo-verdiano, em 04 de novembro último, durante o lançamento de um livro sobre a passagem de Agostinho Neto por Cabo Verde, nos anos 1960.
Intitulado “Agostinho Neto em Cabo Verde: Angola, Nôs Lágrima Ê Igual”, a obra foi organizada pela embaixada de Angola em Cabo Verde, no âmbito das comemorações do centenário do nascimento do primeiro Presidente de Angola, e compila testemunhos de várias personalidades cabo-verdianas, entre eles José Maria Neves.
“Agostinho Neto colocou muitas pedras em Cabo Verde (…) A sua presença aqui foi extraordinariamente importante”, lembrou Neves, entendendo que a obra representa o “dever de memória” que todos devem ter e a necessidade de conhecer a história daqueles que em vários momentos tiveram um papel decisivo na luta de libertação dos povos africanos.
Entendendo que é um orgulho e uma honra homenagear Agostinho Neto, o Presidente disse que foi “um grande vulto” da história de Cabo Verde, mas também que teve um importante papel na independência de Angola e no continente africano.
O título do livro “Angola, Nôs Lágrima Ê Igual” é um verso de um poema do compositor cabo-verdiano Tonecas Marta, para expressar a ideia da “ligação forte” entre os dois países, segundo a embaixadora de Angola em Cabo Verde, Júlia Machado, não obstante a música ter sido cantada aquando do falecimento de Agostinho Neto, em 10 de setembro de 1979, em Moscovo.