A morte do opositor Guy-Brice Parfait Kolelas, principal rival do presidente Denis Sassou Nguesso nas eleições de domingo no Congo, significa uma guinada inesperada para a votação, na qual chefe de Estado espera ser reeleito em primeiro turno.
Kolelas, de 61 anos, testou positivo para covid-19 na sexta-feira e faleceu na França nesta segunda, pouco depois de ter sido transportado de avião de Brazzaville no domingo, dia da eleição.
“Morreu no avião que veio buscá-lo em Brazzaville no domingo à tarde”, declarou Christian Cyr Rodrigue Mayanda, diretor de sua campanha.
O MP de Bobigny (nordeste de Paris) informou à AFP que abriu uma investigação sobre a morte de Kolelas, que não teve o corpo repatriado até o momento.
Poucas horas antes do início da votação, Kolela divulgou um vídeo em que, deitado em uma cama, afirmou que lutava “contra a morte”.
“Meus queridos compatriotas, lutando contra a morte, mas peço que se levantem. Votem pela mudança. Assim não terei lutado por nada”, afirmou, debilitado.
“Levantem-se como um só homem. Me ajudem. Estou lutando em meu leito de morte. Vocês também, lutem pela sua mudança. O futuro de seus filhos está em jogo”, acrescentou antes de voltar a colocar o equipamento de respiração.
Quando sua morte foi anunciada, o clima era tranquilo em Brazzaville. Os resultados das eleições devem ser anunciados durante a semana – as primeiras projeções ainda nesta segunda-feira.
Nos bairros do sul, reduto eleitoral de Kolelas, a situação também era calma, apesar da agressão a um correspondente congolês do canal TV5 Monde na sede do partido do candidato falecido.
“Guy-Brice Parfait Kolelas era um grande líder político congolês. Com ele esperávamos uma mudança. A população congolesa está muito comovida. No momento, não imaginamos quem poderia substituí-lo”, declarou um simpatizante do político falecido, Wilfrid Raoul.
Opositor histórico, Kolelas parecia este ano o único rival de peso do presidente Sasssou Nguesso, 77 anos, que acumula 36 anos de poder.
O presidente desejou uma “pronta recuperação” ao rival depois de votar no domingo.
A eleição aconteceu sem grandes incidentes, com forte presença das forças de segurança.
A Igreja Católica, no entanto, não foi autorizada a mobilizar seus observadores e questionou a transparência das eleições.
Sassou Nguesso chegou ao poder em 1979, mas foi derrotado por Pascal Lissouba nas primeiras eleições com vários partidos em 1992.
Mas o raro exemplo de alternância pacífica na África central terminou em 1997 com o retorno ao poder de Sassou Nguesso, depois de uma guerra civil contra as forças de Lissouba.
Em 2015, ele modificou a Constituição que limitava os número de mandatos presidenciais a dois.
Em 2016, a reeleição de Sassou Nguesso provocou uma violenta rebelião na região de Pool, reduto da oposição.