A Jeune Afrique acusou na terça-feira o governo do Burkina Faso de cometer “mais um atentado à liberdade de informação” ao suspender “todos os meios de difusão” da revista francesa.
Num comunicado de imprensa, a Jeune Afrique descreve a medida como “uma censura vinda de uma outra era” e disse esperar “que os seus autores a possam reconsiderar”, uma vez que “contribui um pouco mais para tornar a região e o Burkina Faso em particular, numa zona de não-informação”.
“Jeune Afrique é o mais recente meio de comunicação social alvo de ataques da junta no poder no Burkina Faso, que tenta impor a sua ‘comunicação'”, lamentou a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Num comunicado, a RSF disse que a liberdade de imprensa “está a diminuir a olhos vistos” no Burkina Faso e apelou ao governo de transição “para que pare com estas violações e respeite o direito à informação da população”.
O porta-voz do governo de transição e ministro da Comunicação do Burkina Faso, Rimtalba Jean Emmanuel Ouédraogo, anunciou na segunda-feira a suspensão da Jeune Afrique, na sequência da publicação de artigos sobre alegadas tensões no exército burquinense.
O governo justificou a decisão com a divulgação de “um novo artigo falso na página eletrónica da Jeune Afrique”, intitulado: ‘Au Burkina Faso, toujours des tensions au sein de l’armée’ [Tensões continuam no exército do Burkina Faso, numa tradução livre]” e publicado na segunda-feira.
“Esta publicação segue-se a um artigo anterior da mesma publicação no mesmo sítio Web”, divulgado na quinta-feira, sobre o alegado descontentamento crescente nas casernas burquinesas, acrescentou o ministro.
Para o governo, “estas afirmações deliberadas, feitas sem o mínimo indício de prova, não têm outro objetivo senão o de desacreditar inaceitavelmente as forças armadas do país e, por extensão, todas as forças combatentes”.
Na noite de terça-feira, centenas de apoiantes do líder do governo, o capitão Ibrahim Traoré, saíram às ruas da capital, Ouagadougou, para “defender” o regime, depois de rumores indicarem que estavam em curso tentativas de desestabilizar o executivo.
No último ano, o regime burquinense, dirigido por militares depois de dois golpes de Estado em 2022, suspendeu temporariamente ou por tempo indeterminado as emissões de vários canais de televisão e de rádio e expulsou correspondentes estrangeiros, nomeadamente de meios de comunicação social franceses.
A decisão das autoridades do Burkina Faso de suspender a Jeune Afrique surgiu quase um ano depois de Ibrahim Traoré ter chegado ao poder através de um golpe de Estado, o segundo em oito meses.
Fundado em 1960, Jeune Afrique é um órgão de comunicação social pan-africano de língua francesa com sede em França, com vários correspondentes e colaboradores em África e noutros locais. Tem um sítio Web de notícias e uma edição impressa mensal.