A União Africana condenou hoje a “tentativa de golpe de Estado”, que, aparentemente, está a acontecer no Burkina Faso, após um motim em várias unidades militares, e exigiu às forças armadas que garantam a “integridade física” do Presidente.
Numa declaração emitida a partir da sede daquela organização, em Adis Abeba, o presidente da Comissão da União Africana (secretariado), Moussa Faki Mahamat, disse que estava a seguir “com profunda preocupação a situação muito grave no Burkina Faso”.
O responsável da UA apelou ao “exército nacional e às forças de segurança do país para cumprirem rigorosamente a sua vocação republicana, que é a de defender a segurança interna e externa do país”.
Além disso, instou-os igualmente a “assegurarem a integridade física do Presidente da República, bem como a de todos os membros do seu governo”.
O líder da União Africana também encorajou “o governo e todos os atores civis e militares a promoverem o diálogo político, como meio de resolução dos problemas do Burkina Faso”.
O comunicado da UA foi divulgado pouco depois do próprio Presidente do Burkina Faso, Roch Marc Christian Kaboré, ter apelado aos militares, através da sua conta na rede social Twitter, para que estes deponham as armas, e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) também ter condenado a “tentativa de golpe de Estado”.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) anunciou em comunicado, divulgado hoje, que está a acompanhar “com grande preocupação” o desenvolvimento da situação no Burkina Faso, “caracterizada” desde domingo “por uma tentativa de golpe de Estado”.
A organização regional “responsabiliza os militares pela integridade física do Presidente Roch Marc Christian Kaboré”, que fontes militares afirmam ter sido detido por soldados amotinados em Ouagadougou, lê-se no comunicado de imprensa.
A CEDEAO condena a ação dos militares, que classifica “como de extrema gravidade”, exortando-os a “regressarem aos quartéis, manter uma postura republicana e a privilegiarem o diálogo com as autoridades para a resolução dos seus problemas”.
O Presidente Kaboré, no poder desde 2015 e reeleito em 2020 com a promessa de lutar contra os terroristas, tem vindo a ser cada vez mais contestado por uma população atormentada pela violência de vários grupos extremistas islâmicos e pela incapacidade das forças armadas do país responderem ao problema da insegurança.
Vários quartéis no Burkina Faso foram este domingo palco de motins de militares, que exigiram a substituição das chefias militares e os “meios apropriados” para combater os grupos terroristas, que atacam o país desde 2015.
Uma dúzia de soldados encapuzados e armados montavam esta manhã guarda às instalações da Rádio Televisão do Burkina (RTB), que transmite programas de entretenimento, noticiou a agência francesa AFP.
Foram ouvidos tiros no domingo à noite perto da residência do Presidente e na madrugada de hoje decorreu uma batalha no palácio presidencial enquanto um helicóptero sobrevoava o edifício.
As estradas da capital estavam vazias no domingo à noite, exceto nos postos de controlo fortemente vigiados por soldados.
Outra agência noticiosa, a AP, informou que soldados revoltosos terão assumido o controlo do quartel militar de Sangoulé Lamizana na capital, Ouagadougou, este domingo.
O motim no quartel de Sangoulé Lamizana ocorreu um dia depois de uma manifestação em Ouagadougou, que apelou à demissão de Kaboré, a última de uma série de protestos contra o chefe de Estado, num contexto de desespero social pela forma como o seu Governo tem vindo a lidar com a insurreição islâmica.
O Governo do país não faz quaisquer declarações desde domingo, tendo a última sido a do ministro da Defesa, Aimé Barthelemy Simporé, que afirmou à RTB que alguns quartéis tinham sido afetados pela agitação, não só em Ouagadougou, mas também em outras cidades do país.
O governante negou nessas declarações que o Presidente tivesse sido detido pelos militares revoltosos, apesar de o paradeiro de Kaboré ser já então desconhecido.
“Bem, são alguns quartéis. Não são demasiados”, disse Simporé no domingo.
Kaboré lidera o Burkina Faso desde que foi eleito, em 2015 (reeleito em 2020), após uma revolta popular que expulsou o então Presidente, Blaise Compaoré, no poder durante quase três décadas.
Ainda que reeleito em novembro de 2020 para mais um mandato de cinco anos, Kaboré não conseguiu combater a frustração que tem vindo a crescer devido à sua incapacidade de conter a propagação da violência terrorista no país.
Os ataques ligados à Al-Qaida e ao grupo `jihadista` Estado Islâmico têm vindo a aumentar sucessivamente desde a chegada ao poder do atual Presidente, reclamando já milhares de vidas e forçando a deslocação de um número estimado pelas Nações Unidas de 1,5 milhões de pessoas.
Também os militares vêm a sofrer baixas desde que a violência extremista começou em 2016. Em dezembro último, mais de 50 elementos das forças de segurança foram mortos na região do Sahel e nove soldados foram mortos na região centro-norte em novembro.
Soldados revoltosos disseram à AP que o Governo estava desligado das suas forças no terreno, que os seus camaradas estão a morrer e que querem assumir o controlo dos militares, para garantir melhores condições de trabalho, aumentos salariais, e melhores cuidados para os feridos e para as famílias dos mortos.