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Angola: “A seca tem solução, mas nunca houve vontade política” – João Malavindele

João Malavindele, da ONG Omunga, diz que é preciso combater assimetrias e tomar medidas efetivas contra a seca e a fome. Mais de 50 países estão reunidos na Guiné Equatorial a discutir soluções para a pobreza em África.

Cerca de 250 milhões de pessoas em África não têm comida suficiente no seu dia a dia, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

A situação de fome severa levou a FAO a convocar uma reunião em Malabo, capital da Guiné Equatorial, com mais de 50 países do continente africano para encontrar soluções para a pobreza na região. Angola é um dos países mais afetados pela fome e seca no continente. A crise alimentar severa agrava-se, sendo que, só na região sul do país, estima-se que haja mais de dois milhões de pessoas afetadas pela seca.

Em entrevista à DW África, João Malavindele, coordenador da ONG Omunga, lamenta que as medidas tomadas pelo Executivo não estejam a ser suficientes para tirar a população da pobreza.

DW África: Existem soluções para o problema da fome que afeta sobretudo a região sul de Angola?

João Malavindele (JM): Tem havido da parte do Executivo algum esforço com a criação de programas que visam combater a questão da fome em Angola e, concretamente, da pobreza. Só que, infelizmente, na prática, esses programas não têm sido satisfatórios para muitas famílias. Muitas vezes, as próprias políticas não respondem diretamente às necessidades das famílias, tomando em conta a realidade de cada província. Há uma inflação muito grande, e esses programas não conseguem tirar as pessoas dessa situação de pobreza. O Estado tem a responsabilidade de pôr em prática as convenções internacionais que Angola ratificou.

DW África: Refere que as medidas que têm sido tomadas pelo Estado não têm sido as mais adequadas. Para onde essas medidas devem ser então direcionadas?

JM: Primeiro, tem a ver com a própria distribuição da riqueza. Precisamos de acabar com essa assimetria. A produção do país deve ser bem distribuída, para que todos os cidadãos se sintam parte desse processo de desenvolvimento. Em vez de criarmos políticas que possam proporcionar mais emprego, mais condições para as famílias, temos estado a registar nos últimos tempos um decréscimo muito significativo relativamente a essa questão.

Nós estamos nesta fase pré-eleitoral e muitos dos programas que foram gizados pelo Executivo não conseguiram cumprir os seus objetivos. Acho que o Governo deve adotar políticas mais inclusivas.

DW África: No ano passado, o Governo angolano lançou a Reserva Estratégica Alimentar. Um dos objetivos era garantir a colocação no mercado de até 520 mil toneladas de produtos (como o arroz ou açúcar). Tem ajudado a combater o problema da fome?

JM: Esse programa tem deixado a desejar, e eu acho que é mais uma forma de branquear, se não mesmo desviar aquilo que é o erário público. Entendo que o Governo deve apostar na agricultura familiar, mas não podemos criar uma estratégia alimentar que dependa da importação. Nós temos condições. Temos terras aráveis para que o país possa apostar na agricultura e tornar-se autossustentável.

DW África: Mas o país está a ser assolado pela seca, o que acaba por contribuir negativamente para isso?

JM: O problema da seca não se resolve por falta de vontade política da parte de quem governa. O Presidente da República [João Lourenço] inaugurou o projeto do Cafu. É um projeto que não vai beneficiar toda a província do Cunene, vai beneficiar apenas uma parte daquelas pessoas, que vivem próximo daquele canal que foi criado.

Somos, por isso, a favor das autarquias. É urgente que haja uma descentralização. E isso só vai ser possível com as autarquias. O problema da seca tem solução – sempre teve solução. Nunca aconteceu, porque nunca houve vontade política da parte de quem governa este país.

 

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