Uma governação que herda um passivo de crise tão elevado, que obriga os seus cidadãos ao pagamento tão doloroso de uma divida que não contraiu e das consequências que se fazem sentir, porque diz que a solução está no “apertar do cinto”, na poupança, na mudança dos nossos hábitos de consumo e na aposta no fomento da produção, não se pode dar ao luxo de fazer reformas luxuosas para se acomodar numa casa que até não é sua.
Poupa, poupa, poupa até os cêntimos. E quando disso houver necessidade (de fazer reformas), deve obrigar o respeito ao equilíbrio, não exagerar na dose, até para não se correr o risco de cair no ridículo. É preciso cautela, bom senso.
Ao ver as imagens da ala renovada (ou criada) do Palácio da Cidade Alta, onde, ontem, o(a)s representantes das diferentes congregações religiosas foram recebido(a)s pelo Mais Alto Mandatário da Nação, senti que falta comprometimento patriótico com a nossa causa e o erário. E se é assim que se gasta o dinheiro (que se diz que não temos) então jamais sairemos dessa crise económica e financeira, porque o mal não está só na corrupção, mas também na qualidade da despesa pública que se continua a realizar nestes tempos em que esperamos por mudanças.
Aquela sala, para mim, assemelha-se mais a uma sala de velório, do que para reuniões. A pomposidade desejada descambou no exagero e no mau gosto! E olhando para aquela enorme cadeira revestida de couro castanho reluzente e com a insígnia da República na parte superior do respaldo onde o Presidente se sentou, veio-me uma vez mais à mente aquela pergunta formulada pelo jornalista e amigo João de Almeida, que muitos (da nossa classe incluindo) entenderam que não fazia sentido: “O Senhor está a gostar de ser Presidente”?
É claro que está a gostar. Mas não é necessário permitir-se à tanto vexame, ou melhor, a dar-nos razões para tantos questionamentos sobre o seu estilo de governação, logo ele que, ao que consta, é, em primeiro lugar, chefe de uma família com marca de parcimônia. Mas, com esses exemplos, que imagem pretende transmitir à Nação e que herança pretende deixar ao seu sucessor, ainda que, do mesmo partido, já que, mesmo com esses indicadores da má utilização de dinheiros públicos, somos forçados a aceitar que são os melhores para governar a Nação?
Olhando para as imagens daquela sala e depois para a fome e para a miséria que se vive ao redor do Palácio da Cidade Alta, podemos concluir que, de facto, o nosso poder não tem sensibilidade para o que é, de facto, prioridade para a vida da população. Por esses dados se pode aferir porque razão o Governo, com o que arrecada, ainda que numa percentagem mais reduzida, não conseguirá aliviar a corda à volta das nossas gargantas. Prefere transmitir ao mundo, para o qual estende a mão pedindo ajuda, imagens pomposas da sua acomodação.
Há um provérbio africano que se encaixa bem na nossa dura realidade: “Para ver a ruína de uma nação, compare o desnível entre o palácio onde o rei está instalado e a casa onde vive o súbdito”.
Ramiro Aleixo
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