Luther Campos, preso por alegado incitamento ao vandalismo na greve dos taxistas em Luanda, continua detido sem acusação formal. Outros detidos já foram libertados. Advogado fala em “excessos” do Ministério Público.
O Tribunal de Comarca de Luanda libertou na semana passada vários cidadãos acusados de participar nos atos de vandalismo durante a greve dos taxistas, a 10 de janeiro, em Luanda. A polícia não conseguiu provar o envolvimento de uma dezena de pessoas.
Entretanto, Luther Campos, tido como a figura que incitou o vandalismo, continua detido. O advogado do militante da União Nacional para a Independência total de Angola (UNITA), maior partido da oposição, diz que ainda não há uma acusação formal.
Wilson de Almeida explica que o Ministério Público junto do Serviço de Investigação Criminal (SIC) recusa-se a libertar o jovem por não se apresentar regularmente às autoridades em cumprimento de um antigo processo relacionado com a sua detenção no âmbito de uma manifestação em Luanda.
“Excesso” por parte das autoridades
A acusação não fala nada sobre o seu envolvimento direto no ato que causou destruição do comité de ação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e de um autocarro do Ministério da Saúde, segundo advogado.
“No entendimento da sub-procuradora, ele faz parte de um grupo que comete vandalismo, um crime que está agora no novo código penal”, explica Wilson Eduardo.
O advogado considera ilegal a prisão do seu constituinte: “Há um excesso por parte da sub-procuradora em manter-lhe detido. Não há razões. Diligências feitas por nós, onde é ouvido, descobrimos que ele tem se apresentado regularmente nos dias 21 de cada mês”, afirma a defesa do também ativista político.
Mãe do ativista culpa o Presidente
A mãe de Luther, que recusa revelar o seu nome, culpa o Presidente da República, João Lourenço, pela detenção do seu filho: “Estamos cansados com o que o Presidente João Lourenço está fazer. Se esse país tem justiça, onde está a justiça se o próprio faz e desfaz?”, questiona a senhora.
“Acusam-lhe de queimar o autocarro e que formou um grupo. Isso é mentira. O único grupo em que Luther King está é de manifestação. Ele na cela só sai para comer e depois volta novamente para a solitária. Está numa cela solitária ele e o Tanaece Neutro. Já não como, não bebo e durmo por pensar no meu filho”, desabafou a mãe de Luther King numa entrevista à Rádio Despertar.
Entretanto, segundo o advogado Wilson de Almeida, o ativista informou esta quinta-feira (20.01) à defesa que foi retirado da cela solitária na tarde de quarta-feira. Por sua vez, o secretário-geral da UNITA, Álvaro Chikwamanga Daniel, considera que o seu militante é vítima de uma injustiça.
“Conseguimos entender que o Luther, miúdo que é, está ser vítima de outras situações. Nas análises feitas pelo ministro do Interior, vemos que o Luther é tido como a ponta de iceberg que só o Ministério do Interior conhece”.
Para além de Luther, também está detido no SIC o ativista Tanaece Neutro por violação de uma medida de coação. Os dois denunciam violação dos seus direitos.
Uma vigília marcada para esta noite em solidariedade aos dois detidos foi dispersada pela polícia. Há detidos e feridos, segundo informações de testemunhas.