Se dúvidas houvesse das profundas clivagens na liderança da UNITA, ficaram dissipadas com o silêncio tumular de Alcides Sakala sobre os rumores que seria um eventual substituto do actual Presidente da UNITA caso a sua eleição fosse anulada.
Reuniu o Comité Permanente da Comissão Política (o equivalente ao BP) e nada sobre isso no comunicado final (por verificar quando tivermos acesso ao doc. completo). Em Comunicação Política era a ocasião ideal para este órgão posicionar-se e o próprio Sakala demarcar-se pública e inequívocamente desta colagem. O não o ter feito não é inocente.
Alcides Sakala é visto como a esperança do retorno à matriz da UNITA
A acontecer encaixa no DNA da UNITA: Fontes internas têm manifestado em privado grande desconforto pelas pontas soltas da vida pessoal do seu Presidente (é casado mas juntou-se apressadamente a uma jovenzinha quando decidiu candidatar-se, começou a fazer-se chamar “Engenheiro” antes de terminar cadeiras em atraso, o imbróglio da nacionalidade portuguesa e.. ser mestiço, etc.) e cuja “lavagem tem custado recursos, tempo e energia que poderiam ser melhor empregues”.
Também manifestam uma desconfiança cada vez crescente com o rumo que está a ser dado ao partido; numa altura em que sentem mais que nunca que podem alcançar o Poder, não vêm com bons olhos as alianças que o Presidente está a fazer, incluindo o regresso de Abel Chivukuvuku e sus muchachos. Ainda por cima, essa aliança está a ser cozinhada fora das estruturas competentes da UNITA, nomeadamente o Comité Permanente e a Comissão Política. Ninguém ao certo sabe como será a lista de Deputados e eventuais pastas ministeriais; nem se a UNITA vai manter ou perder os seus símbolos e programa em favor da Frente Patriótica; ou como vão encaixar is novos aliados nas estruturas intermédias e de base da UNITA. E, o lugar reservado ao Abel por eles considerado traidor…
Mas a grande desconfiança mesmo parece mesmo residir no facto que ao eleger um “crioulo” como eles chamam aos cidadãos de cultura urbana, contavam ter alguém que atrairia as camadas “não-rurais” mas manter-se-ia fiel à matriz cultural da UNITA. ACJ porém, assim que se viu na presidência da UNITA, e para escapar do controlo dos “monstros sagrados” encetou uma fuga para a frente estabelecendo mais ou menos à revelia esta aliança com Chivukuvuku e o BD, considerados por eles como projectos falidos politicamente. Ou que pelo menos, não trará qualquer valor acrescentado à UNITA.
Neste contexto, Alcides Sakala é visto por estas franjas (que não são pequenas) como a esperança do retorno à matriz original da UNITA podendo ser essa a razão pela qual se mantém na retranca. Numa jogada clássica da política, pelo menos poderá com isso trazer de volta ACJ à negociação e subordinação às estruturas colegiais do partido.
Dali o seu silêncio.
Esse silêncio pode ser definitivo ou temporário, sendo a segunda mais provável. Sendo um dos políticos mais experientes da UNITA e do País (foi largos anos chefe directo de ACJ enquanto Secretário para as Relações Exteriores da UNITA de Savimbi) Sakala não cairá no erro de esticar demais a corda correbdo o risco de rebentar. Mas só dará o beneplácito público a ACJ quando tiver assegurado que não estará passando um cheque em branco principalmente na questão das alianças externas para as eleições.