O deputado do MPLA Tomás da Silva não acredita na possibilidade de sucesso do “casamento sem rumo” entre a UNITA, o Bloco Democrático e projecto político PRA-JA SERVIR Angola, de Abel Chivukuvuku.
O presidente da 4ª Comissão da Assembleia Nacional que trata dos assuntos de Administração do Estado e Poder Local, avançou ao Novo Jornal, numa reacção aos recentes encontros entre a UNITA, o BD e o projecto de Abel Chivukuvuku, que visa “destronar” o MPLA, que este “casamento” a três não tem futuro promissor.
“Sem uma estratégia devidamente aguçada não acredito na possibilidade de sucesso deste casamento sem rumo”, disse ao Novo Jornal Tomás da Silva, pronunciando-se sobre a possível futura coligação entre a UNITA, Bloco Democrático e o projecto político PRA-JA SERVIR Angola.
“Os casamentos sem a cumplicidade familiar nunca foram bem-sucedidos” acrescentou, insistindo na metáfora do “casamento”, defendendo que o MPLA e o seu líder, João Lourenço, “estão a provar que, cada vez mais, são o caminho certo da verdade, da esperança e a resposta certa para aas aspirações do povo”.
Tomás da Silva admitiu que “não existe qualquer aliança que possa retirar o MPLA do poder porque “é um partido quem tem experiência, competência e habilidade”.
Por outro lado, o deputado lamentou que a oposição parlamentar mesmo tendo 1/3 dos deputados em efectividade de funções, que é “a condição bastante para se exercer a iniciativa legislativa de revisão da Constituição da República de Angola, nunca o fez”.
“Não sabiam que representam 1/3 dos deputados? Desconhecem simplesmente a aritmética ou se calhar nunca chegaram a se entender?”, questionou.
“Com está iniciativa, o Presidente João Lourenço, o reformador mor, está a demonstrar que é verdadeiramente um Presidente de todos os angolanos”, frisou, sublinhando que “a oposição não sabe o que quer”.
“Ainda ontem tinham na agenda a revisão constitucional, mas hoje já não sabem o que querem. Agir sem pensar é isto. Alguns, completamente desestabilizados, alegam à toa tratar-se de uma extensão do mandato presidencial ou golpe constitucional ou ainda um rebuçado envenenado”, concluiu.
A ameaça da oposição
Estas declarações de Tomás da Silva ao Novo Jornal surgem depois da reunião que os lideres da UNITA, do Bloco Democrático (BD) e o coordenador geral do projecto PRA – JÁ Servir Angola realizaram na quarta-feira, em Luanda, para dar continuidade ao que admitem vir a ser um entendimento alargado para tirar o MPLA do poder.
No documento elaborado após a reunião, com foco principal na revisão constitucional, Adalberto da Costa Júnior, Justino Pinto de Andrade e Abel Chivukuvuku lembram que a actual CRA “já cumpriu o papel político intencionado pelo seu principal mentor” quando “serviu de base para dois ciclos eleitorais amplamente contestados”, com as suas “lacunas” a “contribuir para a subversão da forma republica de governo, do Estado de Direito e da democracia pluralista”.
Neste documento é ainda sublinhado que a “interpretação evolutiva” dos vários componentes da democracia angolana permitiu, ao longo dos anos – a actual CRA data de 2010 – uma “revisão indirecta e silenciosa” da Constituição que “permitiu consolidar a captura do Estado e, também, institucionalizar a corrupção sistémica e a impunidade dos givernantes”.
Neste longo documento, os três dirigentes, que se encontraram hoje pela segunda vez, após o anúncio público de que estavam em negociações avançadas para a criação de uma frente com o objectivo de desalojar o MPLA do poder, e depois de declarações públicas no sentido de manifestarem a disponibilidade para encontrar um candidato único para enfrentar João Lourenço em 2022, fazem uma resenha histórica dos últimos anos da democracia angolana, avançando com propostas para a “revisão” proposta pelo Presidente da República, que acumula com a liderança do MPLA.
Lembram que uma revisão alargada tem vindo a ser proposta de forma recorrente por partidos da oposição mas sempre rejeitada pelo MPLA, julgando que o formato de alterações agora proposto por João Lourenço é “insuficiente”, avançando que este momento devia ser aproveitado para permitir uma maior participação dos angolanos no desenho da CRA.