Grupo de dirigentes da comissão política da UNITA pôs em marcha um requerimento de impugnação ao congresso de dezembro. Adalberto Costa Júnior anuncia a sua candidatura à liderança do partido esta quarta-feira (10.11)
Quinta-feira, dia 11 de novembro, é o último dia para que os aspirantes a presidente do principal partido na oposição em Angola, União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), formalizem a sua candidatura junto da Comissão de Mandatos ao XIIIº Congresso.
De momento, ninguém ainda manifestou, publicamente, a intenção de concorrer, mas a DW África sabe de fonte segura que Adalberto Costa Júnior, o deposto presidente pelo Tribunal Constitucional por irregularidades no Congresso, que o havia eleito em 2019, formalizará a sua candidatura esta quarta-feira (10.11).
Liberty Chiyaka, líder da bancada parlamentar do partido do “Galo Negro”, afirma que “ACJ é o líder da mudança que Angola clama”.
“A candidatura representa a esperança de um futuro melhor para Angola e para os angolanos. Esse futuro melhor implica, necessariamente, mais trabalho, mais dedicação, compromisso com a lisura e transparência na gestão da coisa pública, uma verdadeira reforma do Estado para benefício de todos os angolanos”, disse o diretor da campanha de ACJ, em exclusivo à DW, recusando-se a comentar sobre o clima de tensão dentro do partido.
Ânimos exaltados
Com a repetição do XIIIº Congresso, marcado para os dias 2 e 4 de dezembro, os ânimos parecem estar exaltados na cúpula da UNITA, entre os que defendem um adiamento do conclave, o que significa que Isaías Henrique Ngola Samakuva deverá ser o cabeça de lista às eleições gerais do próximo ano, e os apoiantes de Adalberto Costa Júnior.
Analistas em Luanda dizem que o acórdão do Tribunal Constitucional causou estragos que poderão ser irreparáveis e que uma desarticulação na liderança da UNITA representará a “morte política” do maioria partido na oposição em algum dia vir a ser governo.
“Este ácórdão causaria danos a qualquer partido na condição da UNITA. Pelo facto de ter um efeito desmobilizador e de coloca a UNITA numa situação altamente complexa, a dez meses das eleições”, começa por dizer o politólogo Olívio Kilumbo, que acrescenta: “de facto, os ânimos estão exaltadíssimos, diria”.
Apesar do discurso de apelo à coesão, serenidade e unidade interna, a verdade é que um grupo de apoiantes de Alcides Simões Sakala, o segundo candidato mais votado no Congresso passado, que foi anulado, apresentou na semana finda, um requerimento ao presidente Samakuva, com vista a anular a reunião da Comissão Política que decidiu pela convocação do Congresso para Dezembro deste ano.
Entre os subscritores da carta estão José Eduardo, deputado e secretário do partido em Luanda, a maior praça política eleitoral do país e Victor Hugo Ngongo, que foi porta-voz da candidatura de Alcides Sakala, o segundo mais votado no Congresso anulado. Manuela dos Prazeres, dirigente da LIMA, o braço feminino da UNITA, é outra figura inconformada com a calendarização do conclave em dezembro. Todos alegam que a reunião da Comissão Política, que ditou a data de 2 a 4 de dezembro, foi feita sob pressão psicológica, coação e ameaças à integridade física dos membros que pensavam diferente da maioria.
“Afinal, o que é que a UNITA quer?”
Olívio Kilumbo entende que a UNITA vive um momento em que os interesses pessoais estão a falar mais alto do que os interesses do partido.
“A unidade interna é extremamente importante para capitalizar com as crises, o segredo está no objetivo maior do partido. Afinal, o que é que a UNITA quer?, questiona o paleontólogo, que concluiu: “A história faz-se no presente e deve-se evitar repetir os erros do passado”.
Para Walter Ferreira, analista político e coordenador da Plataforma Juvenil para a Cidadania, a impugnação do Congresso da UNITA pelo Tribunal Constitucional, “serviu como oportunidade para a luta de reivindicação de autoridade pela ala samakuvista”.
“A UNITA confronta-se com a maior crise política desde a sua fundação, no pós conflito. Esta é a descontinuidade de uma visão ideológica que coloca duas correntes (internas) em colisão”, diz.
Esta não é a primeira crise política que, às portas das eleições gerais, o partido do “Galo Negro” enfrenta.
Crises internas
Em 2011, durante uma reunião da Comissão Política, realizada na província do Huambo, um grupo de dirigentes constituídos em “grupo de reflexão”, que contestavam a liderança de Samakuva, foram expulsos e suspensos dos órgãos de direção daquela força partidária.
O co-fundador do partido, José Samuel Chiwale, o antigo secretário-geral, Lukamba Paulo “Gato”, o antigo líder parlamentar, Abel Chivukuvuku, e o médico do presidente fundador do partido (Jonas Savimbi), Carlos Morgado, já falecido, são algumas das personalidades que foram alvo de processos disciplinares e expulsão, sob acusação de violação dos estatutos, por se terem associado a este “grupo de reflexão” que contestava o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, que agora regressou ao cargo, por imposição do tribunal.