O antigo director do Gabinete de Pedro Sebastião, na Casa de Segurança, interromperá o tratamento médico para “enfrentar” interdição de saída de Angola
“Regressarei imediatamente para melhor preparar a minha defesa”.
Foi nestes vigorosos termos que o tenente general João Francisco Cristóvão reagiu à ordem de interdição de saída do país, que o Serviço de Migração e Estrangeiro emanou no dia 3 em respeito a uma determinação da Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal, da Procuradoria Geral da República.
João Francisco Cristóvão encontra-se em Portugal desde o dia 19 de Maio em tratamento médico. Foi lá que foi surpreendido, no dia 24, pelo despacho do Presidente da República que o exonerou do cargo de Director de Gabinete do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República.
Com João Cristóvão foram exonerados no mesmo dia cinco outros Tenentes-Generais da Casa de Segurança, nomeadamente, Ernesto Guerra Pires, do cargo de Consultor do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República; Angelino Domingos Vieira, do cargo de Secretário para o Pessoal e Quadros; José Manuel Felipe Fernandes, do cargo de Secretário-Geral; Paulo Maria Bravo da Costa, do cargo de Secretário para Logística e Infra-Estruturas e o Brigadeiro José Barroso Nicolau, do cargo de Assistente Principal da Secretaria para os Assuntos dos Órgãos de Inteligência.
A exoneração dos seis oficiais superiores foi feita a coberto do processo-crime 1060/021-C, em que a Procuradoria Geral da República os associa ao “cometimento de crimes de peculato, retenção de moeda, associação criminosa e outros”.
Os seis indivíduos afastados no dia 24 de Maio constam da lista de interdição de saída que o SME distribuiu, de forma reservada, às suas unidades em todos os pontos fronteiriços.
Encabeçada pelo já detido Pedro Lussati, da lista constam 24 nomes, nomeadamente Herme Francisco Tyaunda e José Tchiwana, a quem são atribuídos laços de parentesco muito fortes com o poderoso general Alfredo Tyaunda, comandante da Unidade de Guarda Presidencial.
O Correio Angolense soube de boa fonte que alguns dos indivíduos constantes da relação do SME já se evadiram do país há algum tempo.
Quando contactado pelo Correio Angolense para comentar a interdição de saída, João Francisco Cristóvão foi peremptório: “Regressarei imediatamente ao país para preparar melhor a minha defesa”.
Quando perguntado sobre se não teme ser detido, o antigo director do Gabinete do Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República também não titubeou: “Não tenho nada a temer; estou disposto a correr todos os riscos”.
E acrescenta: “tenho consciência que estamos a lidar com gente muito poderosa, mas eu regressarei a Angola de imediato porque acredito na justiça. Ela pode tardar, mas sempre chegará”.
Em busca de tratamento médico em Portugal, João Cristóvão disse ter-se deslocado àquele país devidamente autorizado pelo seu então superior hierárquico e sem qualquer conhecimento de que estivesse a ser investigado pela PGR.
“Só em Portugal é que tive conhecimento de que estava indiciado em alguns crimes. Antes da viagem, em momento algum tomei conhecimento disso. Aliás, nem me seria permitido viajar se o meu superior tivesse conhecimento de que eu estava indiciado em algum crime”.
Licenciado em Direito, João Cristóvão considera “absurda” a interdição de saída do país uma vez que não foi arrolado ou notificado em processos judiciais, nem em instrução preparatória.
Com o seu iminente regresso a Luanda, João Francisco Cristóvão interromperá o tratamento médico a que se está a submeter na capital portuguesa.
Há pouco menos de uma semana, morreu no Hospital Militar Principal o antigo chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar. O general Apolinário Pereira interrompeu o tratamento oncológico que estava a seguir no estrangeiro para vir a Luanda entregar as pastas ao seu sucessor, general João Pereira Massano.