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Angola: António Venâncio quer concorrer à liderança do MPLA, “um partido de candidatos únicos”

António Venâncio anunciou a intenção de disputar a presidência do MPLA contra João Lourenço no congresso do partido, em dezembro. Secretário-geral do MPLA diz que existência de outros candidatos são apenas “boatos”.

Os cartazes do VIII Congresso do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) mostram apenas a imagem de João Lourenço, mas o Presidente de Angola pode não concorrer sozinho à presidência do partido.

Para surpresa de todos, o engenheiro António Venâncio anunciou na noite desta quarta-feira (13.10) a sua candidatura ao cargo, horas depois de uma reunião do Bureau Político do MPLA, que analisou processos relacionados com o congresso de dezembro.

“Acabei por manifestar esta pretensão junto da direção do MPLA e aguardo agora que o processo possa continuar normalmente até à sua conclusão para poder estar presente no congresso e apresentar as minhas linhas de força”, disse António Venâncio, militante do partido há 48 anos, em declarações à DW África.

Haverá outras figuras na disputa?

Há várias figuras de peso do MPLA que têm sido apontadas como possíveis candidatos para concorrer à presidência do partido. Entre elas, destacam-se a médica Irene Neto, filha de Agostinho Neto, o primeiro Presidente de Angola; Pitra Neto, antigo vice-presidente do partido e ministro no Governo de José Eduardo dos Santos; o general Higino Carneiro, deputado e ex-governador de Luanda; e Álvaro Boavida Neto, deputado e ex-secretário-geral do MPLA.

À DW África, Álvaro Boavida Neto garantiu que a informação sobre uma eventual candidatura sua é falsa. “Esqueçam isso. Isso não tem nada de verdade”, asseverou.

Em comunicado, Irene Neto também frisou que não é candidata à presidência do MPLA. A filha do primeiro Presidente de Angola diz estar empenhada em provar a inocência do marido, o empresário Carlos São Vicente, detido há mais de um ano por suspeita de fraude fiscal.

Em entrevista à DW África, o secretário-geral do MPLA, Paulo Pombolo, diz que as supostas candidaturas não passam de boatos. 

“A subcomissão de candidaturas vai dar indicações de como este processo vai ocorrer. Há tempo para se cumprirem os prazos, os documentos que devem ser apresentados. Isso tudo vai ser anunciado. Não se preocupem ainda”, referiu, sublinhando que o partido deverá pronunciar-se nos próximos dias sobre os candidatos para o congresso de dezembro.

Oficialmente, nem a recandidatura do atual presidente do partido, João Lourenço, está, para já, confirmada.

António Venâncio diz que o congresso de dezembro será o momento de efetivar a democracia no seio dos “camaradas”.

“Vivemos o multipartidarismo, mas ao nível do MPLA precisamos de inaugurar uma nova era, a era da competição interna. É isso que tento fazer para desafiar as alternativas que tentamos ensaiar e que, do meu ponto de vista, não deram resultados. Portanto, trago mais uma alternativa para o partido e para o país, e veremos o que os delegados vão dizer”, comentou.

MPLA, o partido do candidato único 

O politólogo Agostinho Sikatu salienta que, no MPLA, não há tradição de múltiplas candidaturas.

“O candidato que assim proceder pode arriscar a sua candidatura não passar. […] É ótimo para o país o MPLA apresentar múltiplas candidaturas, porque até agora o MPLA é o único partido que ficou nos anos 70”, considera.

O jornalista angolano José Gama afirma que o combate à corrupção conduzido pelo Governo de João Lourenço dividiu os “camaradas”, sendo que quem está contra esse processo é visto como potencial candidato à presidência do MPLA. Para o jornalista, isso cria a perceção de que qualquer candidatura contra João Lourenço é um “pecado”.

“Com o congresso às portas, este debate agravou-se e todos os que ‘muito roubaram’ e têm problemas judiciais são ‘acusados’ de serem potenciais candidatos ao congresso. Está-se a criar um clima de intimidação sugerindo que candidatar-se ao congresso é uma coisa errada”, opina.

O jornalista prevê, por outro lado, uma possível retaliação a militantes que apoiem candidaturas que não sejam a do atual líder do MPLA.

“Os estatutos do MPLA preveem um congresso com múltiplas candidaturas, mas os requisitos que se exigem são constrangedores. Pede-se ao candidato que reúna 100 assinaturas para cada província. Isto é quase impossível enquanto o MPLA for em simultâneo o partido que controla o Estado”, afirma José Gama.

“Os militantes são funcionários deste mesmo Estado ou são empreendedores que prestam serviços ao Estado, e ao subscreverem outras candidaturas provavelmente recearão que sejam vistos como estando contra quem gere o Estado”, concluiu.

 

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