Presidente emérito do MPLA, José Eduardo dos Santos, foi o grande ausente no primeiro dia do VIII Congresso Ordinário do partido. João Lourenço concorre à sua própria sucessão, num partido com “problemas”, mas “unido”.
Cerca de três mil delegados estão reunidos no VIII Congresso Ordinário do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) para reeleger João Lourenço como presidente do partido, três anos depois da saída de José Eduardo dos Santos.
Antes da cerimónia de abertura do conclave, o partido fez homenagens a antigos dirigentes da organização. Roberto de Almeida, ex-vice-presidente do partido, Julião Paulo “Dino Matrosse”, antigo secretário-geral do MPLA, e o general França Ndalu foram algumas das figuras exaltadas pelos militantes.
Ausência de José Eduardo dos Santos
Durante as homenagens, em nenhum momento o nome de José Eduardo Santos foi mencionado – nem mesmo pelo candidato João Lourenço que condecorou as figuras históricas do MPLA. O facto ocorreu dias depois de terem surgido rumores de que o presidente emérito do MPLA terá declinado o convite para participar no congresso.
Para o antigo vice-presidente daquela força política, Roberto de Almeida, José Eduardo dos Santos ainda é militante do partido dos camaradas.
“O presidente emérito é um militante que fez uma opção, escolheu não participar no Congresso. É seu direito. Os militantes no seio do MPLA não deixam de ter vontade própria. E de acordo com a situação particular que o Presidente José Eduardo dos Santos vive neste momento, creio que é de sua própria vontade não participar neste congresso, o que não quer dizer que deixa de ser militante do MPLA”, disse o político que deixa a direção do MPLA 44 anos depois.
O general França Ndalu, que desconhece os motivos da ausência de “Zedu”, acredita que haverá uma homenagem própria para dos Santos.
“Ele é importante para o país, foi o nosso segundo Presidente da República, foi o presidente do partido durante muitos anos em que se sacrificou e também foi um Presidente que governou nos momentos muito difíceis, principalmente durante a guerra [civil]. Ele é emérito no nosso país, sempre respeitado e querido pelo nosso povo”, frisou.
A ausência de José Eduardo dos Santos que liderou o MPLA de 1979 a 2018 não é sinónimo de rotura com a direção do partido “pelo facto de ter justificado a sua ausência neste conclave, o que demonstra claramente a atenção que ele continua a ter e o respeito para com os militantes do MPLA. É importante também destacar que o nosso presidente emérito também nos felicitou pela realização deste magno congresso, o que demonstra que o nosso partido é unido, coeso, um partido que está preocupado em desenvolver o nosso país, caminhando com os jovens e com as mulheres”, sublinhou Crispiniano dos Santos, secretário nacional da Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola (JMPLA).
No seu discurso de abertura, o atual presidente partidário e o único candidato à liderança do MPLA reafirmou o combate à corrupção no país. João Lourenço defende que, neste congresso, o seu partido dá um passo inédito com a promoção de jovens e da paridade de género.
Mais mulheres e mais nomes novos
Depois do evento, o Comité Central do MPLA terá mais “sangue novo”. Segundo o líder dos camaradas, 50% dos membros da direção do partido serão mulheres.
“Pela primeira vez na história da política angolana, um partido político alcança a paridade do género no seu órgão máximo de direção e esse partido é o nosso glorioso MPLA. A partir de agora, nada mais será como antes. Subimos a fasquia bem alto, o que com certeza vai exercer uma forte influência sobre toda sociedade”, afirmou João Lourenço.
O MPLA alarga o seu Comité Central de 497 para 693 membros. A direção do partido será composta por 346 homens e 347 mulheres. Vários veteranos estão de saída do Comité Central, entre os quais o deputado e antigo secretário-geral do MPLA, Dino Matrosse.
Em declarações à imprensa, o político – que esteve na direção do MPLA desde o primeiro Congresso realizado em 1977 – falou sobre os rumores da crispação no MPLA.
“Vou ouvindo aí por fora que o partido anda desunido. Pode haver um ou outro descontente, é normal. Mesmo nas nossas casas, se formos sete ou oito irmãos, às vezes há também problemas em casa. O importante é ter discernimento para que se encontre uma solução para algumas coisas que não estão a correr bem na nossa casa”, resumiu Matrosse.