A arte juntou-se este ano aos negócios na Feira Internacional de Luanda (FILDA) pelas mãos do artista Jone Ferreira que recorreu à sucata para criar peças que remetem para a identidade angolana.
Entre as cerca de 500 empresas que marcam presença este ano na FILDA em busca de novas oportunidades de negócios, a galeria ELA (Espaço Luanda Arte) faz a diferença, expondo obras de arte nascidas a partir de uma amálgama de chapas, jantes, tubos e outros resíduos metálicos.
Uma cabeça de leão e um busto da rainha Ginga são duas das quatro esculturas criadas por Jone Ferreira no âmbito do projeto ‘Nzumbi Ya Nzambi’ (Espíritos Divinos) e expostas na FILDA, que o curador e galerista Dominick Maia Tanner, diretor da ELA, considera um palco ideal.
“Achamos que o casamento entre negócios e arte contemporânea é perfeita” até porque “queremos que cada vez mais os angolanos colecionem, gostem e valorizem a sua arte”, disse à Lusa o responsável da ELA.
“São obras incríveis, feitas à mão, com faca, sem soldadura, sem parafusos”, descreve.
O material — três camiões de resíduos metálicos — foi cedido pela empresa Fabrimetal, um dos expositores da FILDA e que é parceiro do projeto.
Além da componente artística, é também “uma chamada de atenção e para a reciclagem”, diz o produtor de arte, enaltecendo o reaproveitamento de resíduos, aparentemente sem utilidade, que acaba por ser também negócio, incorporando os microempresários (vendedores de resíduos), numa cadeia empresarial que cria valor.
Dominick Tanner defende que a responsabilidade social é cada vez mais importante para as empresas e estende-se também ao meio ambiente, as artes, à cultura e à identidade de um país.
“Costumo dizer que a arte e cultura são indicadores de autoestima. Quanto mais nós valorizamos o nosso país, quanto mais tomamos conta do nosso país, quanto mais criamos arte identitária, mais estamos a aumentar a autoestima do país”, sublinhou o produtor de arte.
A 36ª edição da FILDA conta com a exposição de 500 empresas da África do Sul, Alemanha, Argentina, China, Egipto, Estados Unidos da América, Eritreia, França, Índia, Itália, Japão, Líbano, Turquia e Portugal, que tem a maior representação internacional.
O evento internacional, que não chegou a realizar-se em 2020 devido à pandemia da covid-19, voltou a ser adiado por três vezes este ano também por causa das restrições à circulação e medidas sanitárias.
Este ano, a exposição foi inaugurada no Dia dos Petróleos, havendo também dias temáticos consagrados à petrolífera estatal Sonangol (quarta-feira), Portugal (quinta-feira), à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (sexta-feira) e a Angola, que marca o final do certame, no sábado.