O Banco Nacional de Angola (BNA) decidiu manter a taxa básica de juros em 20% e perspetiva uma taxa anual de inflação de 18% para 2022, embora prevendo atingir, a médio prazo, uma inflação de 4% como estabelece comunidade da África austral.
A decisão saiu hoje da primeira 103ª sessão ordinária do Comité de Política Monetária (CPM) do BNA, que decorreu, no edifício sede do banco central angolano, em Luanda, onde o órgão decidiu também a taxa de juro da facilidade permanente de cedência de liquidez em 25%.
Os resultados, desta primeira reunião ordinária do CPM de 2022, foram divulgados hoje, em conferência de imprensa, pelo governador do BNA, José de Lima Massano, garantindo que o organismo que dirige vai manter a política monetária restritiva.
O CPM decidiu igualmente manter taxa de juro da facilidade permanente de absorção de liquidez, em sete dias, de 15% assim como os coeficientes das reservas obrigatórias, que se mantêm em 22%.
O “abrandamento dos preços, que se regista desde setembro passado, o curso ajustado curso dos agregados monetários, as medidas de desagravamento fiscal a bens e produtos de consumo e o comportamento do curso do preço do petróleo mercado internacional” constituem alguns dos fundamentos para a manutenção das referidas taxas.
Para a ano de 2022, o CPM prevê uma taxa anual de inflação de 18%, “que apesar de relativamente mais branda, do que a observada nos dois últimos anos, manter-se-á ainda assim acima do objetivo de médio prazo em que se persegue uma taxa de inflação de apenas um dígito”, notou.
O alcance de uma taxa de inflação inferior a 10%, assinalou, “requer um quadro de política monetária restritivo capaz de influenciar de forma positiva a preservação do poder de compra da moeda nacional”.
“A política monetária do BNA vai continuar restritiva visando a queda da inflação para um dígito e continuar o processo para a banda de convergência estabelecida pela SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, na sigla inglesa) que é de 4%”, afirmou o governador do BNA em resposta aos jornalistas.
Segundo José de Lima Massano, o CPM do banco central angolano decidiu ainda renovar o programa de apoio ao setor real da economia “permitindo que o cumprimento de reservas obrigatórias pelos bancos comerciais possa ser efetuado pelo montante de crédito concedido e desembolsado aos operadores da cadeia de produção de alimentos”.
A renovação do programa crédito ao setor real da economia surge porque os bens alimentares “continuam a representar a classe que mais influencia negativamente a estabilidade de preços na economia angolana”.
“Sendo evidente a necessidade de reforço de estímulos visando o aumento da oferta de bens essenciais de consumo”, realçou o responsável.
No âmbito do aviso n.º 10 do BNA, que aprova créditos ao setor real da economia, foram aprovados, em 2021, financiamentos para 471 projetos de crédito no valor global de 634,32 mil milhões de kwanzas (1.000 milhões de euros), correspondendo a 358% do valor mínimo a conceder previsto para esse exercício.
Os setores que mais beneficiaram do referido financiamento, em termos de montante, foram os setores alimentares, agricultura e produção animal e a indústria de bebidas.
A reunião de hoje analisou o comportamento recente e as perspetivas dos principais indicadores económicos de Angola.
José de Lima Massano assinalou a “estabilidade do mercado cambial” em dezembro de 2021, período em que os bancos comerciais adquiriram no mercado um total de 1.000 milhões de dólares (894 mil milhões de euros) e o kwanza (moeda angolana) manteve o seu curso de apreciação.
“Apreciando no mês (de dezembro passado) cerca de 4,61% em relação do dólar norte-americano, elevando a apreciação anual, no ano de 2021, para 18,24%”, realçou.
De acordo com os dados preliminares de dezembro de 2021, frisou, o saldo da conta de bens foi de 2,32 mil milhões de dólares (2 mil milhões de euros) representando um aumento de 18,55% comparativamente aos 1,96 mil milhões de dólares registados no mês anterior.
A “queda acentuada” de bens que compõem a cesta básica que, em 2021 contraiu em cerca de 44,68% comparativamente ao ano anterior, justificando em parte o comportamento de preços verificado no mercado interno, foi igualmente sublinhada por Massano Júnior.
O “stock” das reservas internacionais líquidas no mês de dezembro situou-se em 15,51 mil milhões de dólares (13,8 mil milhões de euros) correspondendo a uma cobertura de 9,78 meses de importações de bens e serviços.
Em termos anuais a reservas líquidas internacionais registaram uma expansão na ordem dos 4,27% “após uma contração de 13,55% observada no ano de 2020”.
Quanto à base monetária em moeda nacional, houve uma expansão “em 2,99% no mês de dezembro e, em termos acumulados, no ano de 2021 registou uma contração de 3,56%, por sua vez os agregados monetários expandiram em 2,17% no mês de dezembro e 0,86% no ano de 2021”, acrescentou.