O bispo católico de Cabinda considerou hoje que aquela província angolana, rica em petróleo, está “transformada numa aldeia” e que os cidadãos locais “vão continuar a exigir por melhores condições de vida”, devido ao seu “grande contributo” no OGE.
Belmiro Chissengueti, que falava hoje à Ecclesia – Emissora Católica de Angola -, no âmbito das celebrações dos 19 anos de paz em Angola, cujo ato central está agendado para domingo em Cabinda, observou que a província “tem as suas exigências e são legítimas”.
“É verdade que nós, em Cabinda, temos as nossas exigências e são legítimas, no sentido de que esta província é aquela que dá e deu, durante muitos anos, uma grande percentagem no OGE (Orçamento Geral do Estado) e nós nunca nos calaremos porque estamos feitos aqui uma aldeia”, afirmou o bispo angolano.
Segundo o prelado católico, moradores das localidades de Fútila e do Malembro, que “assistem a saída do petróleo há mais de 50 anos, não têm hoje lembranças”, como estradas asfaltadas, supermercados ou campos de jogo, como reflexos dessa exploração petrolífera nas suas vidas.
Pelo menos “asfalto na estrada, um supermercado, um campo de jogos, enfim, para que fique na recordação das pessoas de que no tempo em que petróleo era riqueza do país saiu daqui algum espaço que nós podemos desenvolver, não temos”, atirou.
O também porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) criticou a falta de vias de comunicação, sobretudo no interior da província, questionado a ausência destas “numa terra que dá tanta riqueza” para Angola.
“Então, uma terra que dá tanta riqueza para este país não tem direito a uma estrada em condições? Custa muito tirar um pouco daquilo que é nosso e colocar uma estrada em condições?”, questionou.
A província angolana de Cabinda, norte do país, acolhe no domingo o ato central nacional alusivo aos 19 anos de paz e reconciliação nacional sob o lema: “Angola – Paz, Unidade Nacional e Democracia”.
Belmiro Chissengueti alertou também que aquela província está a registar uma “imigração ilegal acentuadíssima”, porque, notou, “as aldeias estão isoladas devido à ausência de vias interiores asfaltadas”.
“Esta província está a ser invadida, depois não digam que a gente não avisou. Há uma imigração ilegal acentuadíssima porque as aldeias estão isoladas”, exortou.
O porta-voz da CEAST lamentou também a falta de água canalizada na região de Sassa-Zau, “local de onde é explorado o líquido para outras regiões”, apontando para a “falta de racionalidade económica” para inverter a situação.
“Vejo por exemplo Landana, é uma aldeia autêntica (…). Em Buco-Zau, tem lá um condomínio completamente abandonado, quando pessoas estão sem casas, não pode. O país está a gastar riqueza à toa, estamos a atirar dinheiro na lama”, lamentou.
O bispo de Cabinda enalteceu, por outro lado, o “grande esforço” do governador da província, visando melhores condições para os cidadãos, referindo que “a parte urbana da cidade está iluminada, está em curso a construção do hospital central, também é bom”.
Defendeu ainda que as obras locais, como a construção do hospital central, do porto e aeroporto, “devem criar empregos para os filhos da terra”, porque em Cabinda o índice de desemprego “é muito grande”.
“E enquanto não se der resposta a isso teremos sempre crises cíclicas que poderiam ser evitadas. Penso que ainda se vai a tempo de se fazer melhor”, concluiu o bispo Belmiro Chissengueti.
A Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), através do seu “braço armado”, as Forças Armadas de Cabinda (FAC), luta, há anos, pela independência daquela província, que detém a maior parte das reservas petrolíferas do país, alegando que o enclave era um protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.