Os assassinatos continuam nas zonas de exploração diamantífera da região de Cafunfo, no nordeste de Angola. A denúncia é do arcebispo de Saurimo, Dom Manuel Imbamba.
Em entrevista concedida à Rádio Ecclesia, Dom Manuel Imbamba denunciou que os cidadãos são mortos pelo simples facto de quererem melhores condições de vida na província da Lunda Norte.
“Em Cafunfo, continuam a morrer pessoas”, afirmou o arcebispo de Saurimo. “Nas zonas de exploração diamantífera ainda continuam a morrer pessoas. Os seguranças das empresas que defendem as minas continuam a massacrar pessoas. Não podemos calar de maneira nenhuma, e denunciar isto não é manchar este ou aquele.”
Na entrevista à emissora católica, o vice-presidente da Comissão Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe lembrou que, embora a província da Lunda Norte seja rica em diamantes e tenha solo fértil, a população vive na miséria e clama por bens básicos.
“Estamos a falar de energia e água, estamos a falar de educação, estamos a falar de estradas, estamos a falar de saúde – para fazer com que a vida flua e todos sintam de facto o impacto daquilo que é retirado daqui para o desenvolvimento de todo o país”, disse o arcebispo angolano.
Polícia desconhece
O comandante provincial da polícia angolana na Lunda Norte, Alfredo Quintino Lourenço “Nilo”, garante que não houve registo de novos incidentes em Cafunfo desde 30 de janeiro, quando foi morto um número indeterminado de pessoas após uma alegada tentativa de invasão de uma esquadra policial por membros do Movimento do Protetorado Português da Lunda Tchokwe.
À DW África, o comissário “Nilo”, que é também delegado do Ministério do Interior na Lunda Norte, afirma que foi registado apenas um incidente numa das áreas de garimpo de diamantes localizada na região de Xa-Muteba.
“Nas matas de Xa-Muteba há uma área que pertence à empresa mineira do Cuango, onde efetivamente tivemos o registo de dispersão de jovens que estavam na prática de garimpo dentro da área de concessão da empresa mineira do Cuango. O incidente ocorreu na semana antepassada.”
Segundo o comandante, uma pessoa foi morta e outra ficou ferida. A polícia deteve três suspeitos.
Mortes no Cuango
Jordan Muacambinza, defensor dos direitos humanos na Lunda Norte, diz à DW África que há casos frequentes de assassinatos no município do Cuango.
Recentemente, um cidadão de 47 anos terá sido torturado até à morte por seguranças das diamantíferas. Um jovem de 25 anos foi baleado na cabeça, afirma Muacambinza. “Não podemos permitir que a segurança privada continue a tirar a vida dos cidadãos em plena luz do dia”, apela.
“Se o Governo não se tem preocupado com estes assassinatos, nós enquanto defensores dos direitos humanos estamos preocupados. Recentemente testemunhámos os incidentes de 30 de janeiro, e os investigadores dos direitos humanos estão a lutar a fim de encontrar números exatos de assassinatos, e é o mesmo nesta zona, onde as mortes não estão a parar.”
O arcebispo de Saurimo pede às empresas de exploração de diamantes na Lunda Norte que formem os jovens e garantam empregos para a população local.
Dom Manuel Imbamba deixa também um recado às autoridades públicas: “As administrações têm que servir só o bem comum. Que as políticas sejam feitas nas sedes partidárias, que na administração se faça só administração. Que se resolvam os problemas, que se desburocratize a vida da própria governação.”