Os sobas da zona de Cafunfo pedem calma à população, depois da violência ocorrida no sábado e que resultou em vários mortos, e afirmam que há estrangeiros envolvidos nos incidentes.
Os sobas (autoridades tradicionais) encontraram-se na quarta-feira com representantes do governo e receberam orientações para tranquilizar a população.
“Fomos chamados pelo governo, éramos doze sobas e a reunião com o segundo secretário [do partido, Movimento Popular para a Libertação de Angola] deu-se para nós fazermos um apelo à população para que fiquem tranquilos, depois dos incidentes que se passaram”, disse à Lusa o soba Gonçalves Daniel.
Sobre os acontecimentos de sábado, afirma que não foi possível inteirar-se do número de mortos e feridos por que não presenciou os incidentes, que se deram às 04:00, e vive longe do local.
“Não observámos os mortos”, declarou, salientando ainda que nunca se cruzou com Zecamutchima, o presidente do Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe, que o governo responsabiliza pelo alegado “ato de rebelião”, de que resultaram seis mortos, e vários feridos, incluindo dois elementos das forças de segurança, segundo os números oficiais.
A versão policial é contrariada por populares e pelo MPLT que afirmam ter-se tratado de uma tentativa de manifestação pacífica e estimam o número de mortos em duas dezenas e meia.
“Eles foram fazer estes incidentes, a população em geral não sabe [do MPLT], se a população fizesse manifestações da estrada, da água, não levavam catana nem enxada, nem panela de feitiço, se queremos fazer a marcha a mostrar estas preocupações, vamos desarmados”, diz o Gonçalves Daniel, aludindo ao arsenal exibido pela polícia e que terá sido apreendido aos manifestantes.
O soba garante ainda que tem transmitido as reivindicações, da falta de água, de escolas, de estradas quando vai ao encontro do governo, com resultados positivos.
Mas a resposta desagrada a alguns moradores do bairro que assistem à entrevista e elevam a voz, mostrando discordância com o soba e descontentamento com a ação governativa.
Afonso Muandumba, outro dos sobas que esteve no encontro diz que são “os congoleses que estão a estragar” a paz.
“As pessoas que passaram pela guerra já podem dormir a vontade. Agora vêm os outros? Esse movimento, não é nada, o Zecamutchima veio do Congo e está a vir enganar os outros”, critica o soba de Ngulue.
“Se queriam reivindicações iam com a catana, iam com arma de fogo, iam esquartejar o chefe?” – pergunta Afonso Muandumba.
O Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe tem reivindicado o reforço da autonomia para a região, com grandes riquezas diamantíferas, e a ação de protesto do passado sábado foi o sinal mais recente do descontentamento da população local.