Centenas de jovens angolanos saíram às ruas de Luanda para protestar contra a corrupção em Angola e em defesa da realização de eleições autárquicas. Pedem o fim do MPLA no poder e mais emprego para os jovens
Centenas de jovens saíram às ruas de Luanda, Angola, esta quinta-feira (10.12), e concentraram-se no Largo da Independência em protesto contra o regime angolano e contra o elevado custo de vida no país. Afirmam que a fome os motivou a participar na manifestação e pedem mais justiça e ação no combate à corrupção em Angola.
Os participantes no protesto exigem emprego, saúde, educação e justiça para todos. “JLo [Presidente João Lourenço], o povo tem fome”, lia-se num dos cartazes dos manifestantes.
O ativista Luaty Beirão partilhou um vídeo em direto no Facebook a partir da capital angolana.
Ao contrário dos acontecimentos de 11 de novembro que resultaram na morte de Inocêncio Matos e da detenção de vários cidadãos, a manifestação que decorreu no dia do aniversário do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), e da celebração da Declaração Univesal dos Direitos Humanos, decorreu sem violência. A polícia nacional assegurou o curso do protesto até ao fim.
Para o ativista Pedrowski Teka, um dos organizadores do evento, o objetivo do protesto foi alcançado: colocar uma camisola com o rosto de Inocêncio de Matos na estátua de Agostinho Neto, o primeiro Presidente angolano, no Largo da Independência. “Está aí nas mãos de Agostinho Neto. Que os políticos façam [a sua] leitura. Que João Lourenço faça [a sua] leitura”, frisou.
Últimos protestos manchados por violência
Este é o terceiro protesto em menos de dois meses, em Luanda. As duas tentativas de manifestação anteriores foram duramente reprimidas pela polícia e acabaram com uma centena de manifestantes detidos, em 24 de outubro, libertados uma semana mais tarde, e um estudante morto em 11 de novembro, data da celebração da independência em Angola.
As circunstâncias em que o jovem morreu estão ainda por determinar, com testemunhas a afirmarem que Inocêncio de Matos, de 26 anos, foi baleado pela polícia, enquanto médicos do hospital Américo Boavida indicam que a causa da morte foi uma agressão com objeto “contundente” não especificado.
Pedrowsky Teca defende que o Governo angolano deve transformar a Avenida Hoji-ya-Henda, antiga Avenida Brasil, em Avenida Inocêncio de Matos, por ser o local onde morreu o estudante universitário na manifestação de 11 de novembro. Além disso, “pela vontade do povo, a data de nascimento deste jovem vai ser proclamada como o dia consensual da juventude angolana”, contou.
“Em primeiro lugar vamos dialogar com a juventude de todos os partidos políticos e com o Conselho Nacional da Juventude e depois vamos levar o documento à Assembleia Nacional e ao Presidente da República”, prometeu.
“Isto não é um pedido. É uma exigência. Inocêncio de Matos é apartidário e acreditamos que seja uma figura incontestável para ter este mérito”, concluiu.
“MPLA já caiu”
Os manifestantes ouvidos pela DW África afirmam que estão convictos de que, em 2022, o partido de João Lourenço estará fora da governação. “O MPLA caiu porque é um partido ditador e em 2022 já não vai governar Angola. Participo nesta manifestação porque sou desempregado e tenho muitos irmãos em casa que estão também desempregados”, disse um dos participantes no protesto.
Os jovens também pedem a realização das primeiras eleições autárquicas no país, no próximo ano, além da redução do preço da cesta básica.
“O povo angolano está a exigir que o MPLA deixe o poder. Somos capazes de conduzir este país. Há tanta miséria neste país quando há tanta riqueza para este povo, mas o MPLA não dá a mesma riqueza para o povo e o mesmo povo está a morrer de fome”, lamentou outro manifestante.
O protesto saiu às ruas num momento em que o MPLA completa 64 anos de existência. O partido governa o país desde a independência de Angola face a Portugal em 1975.
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