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ANGOLA: CHAMEM A POLÍCIA! A INVASÃO DOS MÉDICOS

Quando se levantou na manhã de dia 18 de Novembro de 2020, Mário Afonso de Almeida (Kasesa), ex-ministro da Saúde de Angola, médico com 88 anos, não imaginava que passadas poucas horas lhe seria vedada a entrada na Ordem dos Médicos e se veria rodeado de um forte aparato musculado de polícias armados com armas semiautomáticas que pretendiam impedi-lo (e a mais dois respeitáveis médicos séniores) de “invadir” as instalações da sua profissão.

Na sequência da Assembleia-Geral Nacional dos Médicos que ocorreu a 17 de Outubro passado, com vista a destituir a bastonária da Ordem dos Médicos, Elisa Gaspar, foi constituída uma Comissão de Bons Ofícios composta por Mário Afonso de Almeida (“Kasesa”), Matadi Daniel, ex-presidente da Comissão Eleitoral Nacional da Ordem dos Médicos, Artur Nascimento, ex-presidente do Colégio de Especialidade de Medicina Intensiva da Ordem (os três retratados na foto principal), e Carlos dos Santos (“Sacy”), ex-bastonário da Ordem dos Médicos. Todos figuras veneráveis e com mais de 60 anos, cujo mote é salvar vidas, e não provocar danos. Dificilmente confundíveis com um grupo de perigosos guerrilheiros invasores da Ordem dos Médicos.

Ora, no dia 18 deste mês, pelas 9:00 da manhã, esta Comissão de Bons Ofícios, com excepção de Sacy (ausente por motivos profissionais atendíveis), dirigiu-se à Ordem dos Médicos para falar com Elisa Gaspar relativamente à sua destituição. Ali chegados, foram informados de que Elisa Gaspar não se encontrava presente; pediram ao secretariado uma sala para se reunirem e esperarem pela chegada da bastonária destituída. Foi-lhes dito que não havia salas, pelo que se conformaram em esperar pela senhora no hall exterior da Ordem.

Eis senão quando, às 9:45, são cercados por um grupo de polícias fortemente armados com armas automáticas e em pose ofensiva. Estupefactos, os médicos vão inquirir junto do comandante da força o que se passa, sendo informados de que tinha havido uma denúncia de que um grupo de médicos queria invadir a Ordem e confrontar a bastonária destituída. Ao que os médicos da Comissão de Bons Ofícios retorquiram que tinham ido à sede da sua Ordem com a mais pacífica das intenções e mandatados pelo órgão supremo da Ordem: a Assembleia Nacional. Mesmo assim, a polícia ainda manteve o aparato durante três horas, não se percebendo como podia temer que três pacíficos idosos médicos invadissem o edifício da Ordem; inclusivamente, a polícia impediu os médicos de proferirem declarações às equipas da TVZimbo, Rádio Nacional de Angola, Rádio Ecclesia e Rádio MFM.

Evidentemente, nada disto tem sentido, desde logo porque o edifício da Ordem dos Médicos é a casa comum dos médicos, e não o quartel da bastonária destituída.

Estes acontecimentos merecem duas reflexões. Em primeiro lugar, comprovam à saciedade que a bastonária destituída, Elisa Gaspar, não tem o discernimento ético necessário para ocupar quaisquer altas funções. É inaceitável que chame a polícia acusando os seus colegas mais velhos e respeitados de quererem invadir a Ordem. Uma invasão de três médicos… ridículo. Elisa Gaspar já não tem o apoio dos associados da Ordem e perdeu toda a credibilidade, e agora procura manter-se no lugar pedindo o auxílio da polícia. Nunca se viu uma suposta bastonária da Ordem dos Médicos, que salvam vidas, chamar a polícia contra os seus colegas. É evidente que a polícia nada tem que ver com o assunto.

Em segundo lugar, tornam manifesto que, a nível da sociedade em geral e da sua relação com a polícia, é necessário reduzir o nível de tensão que se tem vivido nas últimas semanas. O objectivo essencial de combater a corrupção está a ser esquecido, a agitação começa a criar comportamentos irracionais. Tem de haver um movimento de diálogo e distensão na sociedade. Sem esse movimento, a situação só tenderá a piorar, e a história angolana ensina que rapidamente se cai na violência. É, portanto, fundamental criar uma Comissão de Bons Ofícios na sociedade civil, que gere condições para um diálogo social renovado entre as várias forças, a partir do qual seja retomada a transição pacífica que estava em curso.

Texto do Maka Angola

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