Atores da sociedade civil e políticos angolanos condenaram hoje atos de racismo, tribalismo e regionalismo que “ainda persistem” e são promovidos em vários círculos do país, considerando que a prática “condiciona a construção da inclusão e unidade nacional”
“Construção do Estado Democrático e de Direito: Diversidades e Identidades versus Racismos e Tribalismos” é o tema de um fórum, denominado “Conversa Intergeracional”, que decorre hoje, em Luanda.
Para a ativista angolana Laura Macedo, uma das oradoras no encontro, o racismo e o tribalismo “só vingam numa sociedade como a nossa” devido à “desestruturação causadas por políticas públicas não inclusivas”.
Segundo a ativista, não há interesse dos governantes em construírem um verdadeiro Estado democrático e de direito, considerando que o “estratagema” de quem dirige o país “é a construção do analfabetismo”.
“Em Angola persiste a ausência de esperança para a melhoria das condições de vida”, disse, referindo: “A falta de uma justiça célere e séria, independente, do poder político faz com que o sonho que mantivemos seja uma miragem”.
Laura Macedo acusou também o Governo angolano de “ostracizar” o interior do país, exemplificando o caso das províncias de Cabinda e a região das Lundas, ricas em recursos minerais, “mas completamente devastadas”.
“E devíamos todos os envergonhar porque é que essa gente quer protetorado”, atirou.
A deputada da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), na oposição, Miraldina Jamba afirmou, no decurso da sua exposição, que o racismo e o tribalismo “têm condicionado a construção da unidade nacional”.
“A verdade é que recorrentemente assistimos na sociedade a tendências tribais e racistas, quer em cidadãos comuns quer em atores públicos e nos meios de comunicação social”, apontou.
Para que o país “esteja livre do racismo, tribalismo e do regionalismo”, a deputada defendeu “investimento na primeira infância, na educação dos jovens e crianças para o respeito e aceitação do próximo”.
O ex-primeiro-ministro angolano Marcolino Moco, exonerado pelo Presidente angolano em finais de fevereiro do cargo de administrador não executivo da petrolífera estatal Sonangol, também foi um dos oradores deste fórum.
Marcolino Moco, que antes de ser exonerado havia criticado um comunicado do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), na sequência dos incidentes de Cafunfo, afirmou que não deixou de fazer críticas por ser uma “pessoa coerente”.
“Não deixei de fazer críticas, se a minha preocupação fosse manter o lugar diria outra coisa, ouvi aquele comunicado racista do Bureau Político e dizer que está bom não seria coerente”, afirmou, respondendo a uma questão da plateia.
A fome, o lixo, cidadãos fora do sistema de ensino, sem registo civil, a falta de água, energia elétrica, a insegurança e o medo foram apontados por Cristina Pinto como “males que travam a construção de um verdadeiro Estado democrático e de direito”.
Na sua intervenção, esta oradora ao fórum questionou a “perseguição que ainda persiste” a quem pense diferente em Angola e a “falta de uma imprensa livre”, defendendo “conferências nacionais inclusivas para uma efetiva reconciliação”.
“Está por se resolver a questão da identidade e não devemos mais adiar o progresso e o desenvolvimento do país”, notou.
Já Filomeno Vieira Lopes, economista e político do Bloco Democrático, na oposição, considerou que a paz deve ser alicerçada na justiça, referindo que Angola tem “fortes valências culturais” que devem “servir de base para a estruturação do nosso chão”.
Este fórum sobre “Conversas Intergeracional” é promovido pela organização angolana “Ambuila”.