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Angola: COVID-19 faz esquecer “luta contra” a SIDA

No Dia Mundial da Luta contra a SIDA, a Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA está preocupada com a falta de medicamentos e a “altíssima” taxa de abandono do tratamento do HIV em Viana.

Celebra-se esta quarta-feira (01.12) o Dia Mundial da Luta contra a SIDA. Esta é uma doença que, em Angola, afeta mais de 350 mil pessoas, das quais apenas 110 mil fazem terapia antirretroviral. Os números são da Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA, Malária e Tuberculose (ANASO), que destaca que o distrito do Zango, no município de Viana, é a região do país que regista o maior número de infeções e mortes por HIV.

À DW, o presidente da ANASO, António Coelho, justifica o elevado número de casos e fatalidades com os problemas sociais que se vivem nestas regiões de Luanda. Na capital angolana, estão concentrados 40% do total de portadores de HIV do país.

“Em Viana e no Zango, temos uma alta taxa de prostituição, temos falta de informação, uma alta taxa de pobreza e, sobretudo, temos um alto índice de estigma e discriminação”, explica António Coelho, que acrescenta que é necessário “declarar uma guerra aberta contra esta epidemia”. Segundo os números da organização, esta região de Angola regista, por ano, cerca de 26 mil novas infeções e 13 mil mortes relacionadas com a SIDA.

O ativista diz que a luta contra a SIDA em Angola está adormecida devido às atenções que as autoridades angolanas dão à Covid-19. Por essa razão, a ANASO promoveu, recentemente, uma marcha em solidariedade às pessoas com HIV com a finalidade de resgatar o programa de combate à doença.

Falta de medicamentos

Uma das grandes preocupações, frisa António Coelho, é a rutura no stock dos meios de prevenção. A falta de preservativos masculinos, conta o ativista, faz com que as “pessoas estejam a usar plásticos como o meio de prevenção”.

“Naturalmente estão a prevenir-se da SIDA, mas estão a contrair outras infeções de transmissão sexual”, explica o presidente da ANASO, acrescentando que é necessário “repor rapidamente os meios de prevenção”. “Isso passa naturalmente por usar os fundos colocados à disposição da Covid-19 também para apoiar a luta contra Sida, Malária e Tuberculose”, sublinhou.

Coelho sugere que é necessário melhorar o processo de abastecimento dos medicamentos para que as pessoas que precisam possam encontrá-los nas unidades sanitárias próximas de suas residências, sob pena destas pessoas abandonarem os tratamentos. “Nessa altura, a taxa de abandono do tratamento das pessoas que vivem com o HIV é altíssimo. Mais 50% das pessoas que vivem com o HIV abandonaram a medicação por falta de alimentação”, diz.

Comunidade LGBT pede mais apoio

Também em declarações à DW África, Carlos Fernandes, presidente da Associação Iris, ONG que trabalha pelos direitos da população LGBT, pede mais apoio para os membros da sua comunidade que vivem com a doença.

“Em Luanda, não existem fundos para HIV para pessoas como nós. Só noutras províncias, apesar de Luanda ter uma taxa de prevalência mais alta. Como o Estado é que dá os medicamentos, é gratuito e o acesso é fácil. O problema está na questão de implementar os serviços”, disse Carlos Fernandes, que frisa: “Para nós, são necessários serviços específicos”.

 

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