O diretor da consultora EXX Africa disse hoje à Lusa que as reformas em Angola poderão ser adiadas devido à crise económica e aos protestos violentos das últimas semanas, o que afeta as relações com o FMI.
“A crise económica e os protestos violentos que originou vão aumentar a pressão sobre o Governo de Angola para atenuar as reformas definidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e as medidas de austeridade”, disse Robert Besseling quando questionado pela Lusa sobre se a crise propicia ou dificulta a implementação das reformas.
“Os recentes casos de corrupção, a falta de empenho na transparência e a falta de reformas no setor bancário vão prejudicar as relações com o FMI e adiar a implementação da agenda reformista”, acrescentou o responsável, na semana em que se assinalam os 45 anos da independência do país.
Nas declarações à Lusa, o diretor desta consultora sedeada em Joanesburgo considerou que a privatização dos ativos não petrolíferos está “parada devido à falta de interesse dos investidores” e avisou que isso “prejudica a diversificação económica”.
Os investimentos privados, notou, “são principalmente direcionados para o setor petrolífero, como os 920 milhões de dólares [775 milhões de euros] para a refinaria petrolífera de Cabinda, que estão a ser financiados de forma opaca pela Gemcorp numa altura em que o preço do petróleo ainda está abaixo do ‘break-even’ [ponto de início do lucro]”.
Questionado sobre a evolução da economia de Angola nos próximos anos, em que a maioria dos analistas prevê um regresso ao crescimento económico positivo depois de cinco anos de recessão, Robert Besseling lembrou a recente sondagem feita pela EXX Africa, que mostra que 60% dos angolanos estão pessimistas sobre o país.
“Apesar de o FMI antever uma modesta recuperação económica no próximo ano, os angolanos estão pessimistas; a elevada inflação e o desemprego massivo são as principais preocupações para muitos angolanos, numa altura em que a agenda de privatizações do Governo está parada devido à pandemia e continua vulnerável a interferências políticas, o que está a manter os investidores estrangeiros relutantes em investir nos ativos angolanos”, concluiu o analista.
O governo angolano assinala os 45 anos de independência a partir de terça-feira, com uma homenagem no Palácio Presidencial, e várias inaugurações, entre as quais a do Hotel Intercontinental, nacionalizado no mês passado.
No dia 11, quarta-feira, data em que se celebram os 45 anos da “Dipanda”, as cerimónias começam às 07:00 com o içar da bandeira no Museu Central das Forças Armadas Angolanas, seguindo-se às 09:00, a deposição de uma coroa de flores no memorial Dr. António Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, que proclamou a independência em Luanda, às 00:00 do dia 11 de novembro de 1975.
Para as 10:00 está prevista a inauguração do Hotel Intercontinental, nacionalizado pelo Presidente, João Lourenço, no dia 28 de outubro, passando as participações a pertencer na totalidade à petrolífera estatal Sonangol.