Com as eleições gerais de Angola previstas para 2022, o clima de crispação na província do Cuando Cubango é cada vez mais intenso. A oposição denuncia vários incidentes de intolerância política.
O maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), acusa o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no governo), de estar por trás de vários atos de intolerância política.
No fim de semana passado, na aldeia do Cachimbo, em Menongue, a retirada de bandeiras da UNITA, alegadamente por militantes do MPLA, levou a agressões físicas entre jovens militantes dos dois partidos.
“É uma vez mais um ato de intolerância política que faz parte da cultura do MPLA, não é a primeira vez”, disse à DW África o secretário provincial adjunto da UNITA no Cuando Cubango, Joaquim Sapondo.
Os incidentes multiplicam-se
O político nomeou os alegados causadores dos distúrbios: “Um regedor da área do soba Matias e o secretário do MPLA da área do Cacimbo foram até às nossas instalações, onde as bandeiras se encontravam hasteadas, e tiraram as bandeiras”, denuncia.
“Os nossos homens acharam que deviam reclamar.”
A reclamação resultou em espancamentos, acrescenta Sapondo.
Houve feridos e danos materiais nos confrontos entre militantes do MPLA e da UNITA
O militante da UNITA João Ferreira Catete, um dos vários feridos nos confrontos do fim de semana, contou à DW África o que aconteceu: “Quando chegámos, perguntámos qual fora a causa da retirada das nossas bandeiras. Eles começaram a dizer que não queriam a bandeira da UNITA aqui. Então, um jovem pegou num pilão para bater na cabeça do secretário municipal.”
Segundo Catete, os agressores vieram armados com catanas, pilões, pedras e outros objetos. “Um dos homens cortou-me com a catana. Graças a Deus não aconteceu o pior!”, disse.
O secretário provincial adjunto do partido, Joaquim Sapondo, acredita que o ocorrido “tem por de trás o encorajamento das entidades governamentais”.
Sapondo salienta que, no passado, registaram-se incidentes similares no “Cuito Canavale, no Masseca, houve intolerância no Dirico, na comuna do Chamavera, houve atos de intolerância no município do Calai, que nós reportámos”, disse, continuando a enumerar outros casos de intolerância política.
“Nós registámos mais de vinte feridos”, informou, concluindo: “O processo eleitoral tem de decorrer num ambiente salutar de paz.”
Apelo pela paz social
Tal como muitos cidadãos, Ernesto Alberto, professor residente em Menongue, repudia os contantes incidentes de intolerância política na província.
“É necessário que os militantes sejam mais humanos. Nós somos irmãos da mesma pátria”, disse Alberto à DW África. “Da forma como nos últimos tempos vão acontecendo agressões aqui e acolá, não conseguiremos a paz social que se pretende”, concluiu o professor.
A DW África tentou, sem sucesso, ouvir o Comité Municipal do MPLA em Menongue. O administrador municipal de Menongue, Manuel Ndala, recusou gravar a entrevista, mas desmentiu a presença e qualquer responsabilidade de membros do seu Executivo nas agressões na aldeia de Cachimbo.