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Angola: “Desunião da oposição” pode ajudar a perpetuar MPLA no poder em Angola

Líder da CASA-CE minimiza aspirações da Frente Patriótica nas próximas eleições em Angola. Mas se a oposição não se unir, será “completamente impossível” desalojar MPLA do poder, diz analista. “Estes flancos não ajudam.”

O presidente da coligação angolana Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), Manuel Fernandes, desvalorizou nesta segunda-feira (30.08) as pretensões da Frente Patriótica Unida, bloco político na oposição que se propõe a tirar o MPLA do poder, considerando que “a verdadeira frente” é o seu partido, que diz estar muito compacto e coeso.

Em entrevista à DW África, o analista político angolano Olívio Kilumbo considera que as declarações de Manuel Fernandes revelam que em Angola há dois blocos da oposição política e essa desunião da oposição pode contribuir para ajudar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) a perpetuar-se no poder.

DW África: O que é que as declarações do presidente da CASA-CE podem significar para o panorama político angolano, numa época pré-eleitoral?

Olívio Kilumbo (OK): Primeiro, ficamos com a impressão definitiva de que existem duas oposições em Angola. Se o objetivo da oposição política é contrapor, é sobrepor um partido político por via das eleições, logo deve esta oposição estar unida, do ponto de vista do pensamento, do objetivo e do entendimento. As palavras do presidente da CASA-CE vêm em contradição com essa ideia. Logo, chegamos à conclusão efetiva de que há duas oposições. Estes flancos não ajudam a desalojar o MPLA. Antes pelo contrário, arregimentam-no.

DW África: Neste caso, significa que esta desunião pode significar o fracasso da própria oposição?

OK: O fracasso desde já não, mas é mau para o processo. Seria bom se todos os partidos que compõem a oposição estivessem juntos. Mas também queria clarificar uma coisa: Angola tem partidos participantes das eleições, partidos com competência de alternância e um partido que mantém o poder político. Portanto, quando olho neste momento para o figurino político angolano, temos três corpos políticos: o MPLA, que tem o poder; a UNITA, o projeto PRA JÁ Servir Angola e o Bloco Democrático, que formam a Frente Patriótica Unida; e a CASA-CE, o PRS e o FNLA num outro bloco. São três flancos. Agora, a grande questão é: como é que estes partidos surgiram? Em 1992, naquele calor das eleições gerais, o próprio MPLA influenciou o surgimento de novos partidos e muitos destes estão aí até agora.

DW África: Então, são uma espécie de partidos satélites?

OK: Em grande medida. Não no caso da CASA-CE,mas o PRS, por exemplo, que surgiu naquelas circunstâncias, sim. A CASA-CE já foi um projeto mais ambicioso. Neste momento, estão criadas as condições para acontecerem duas coisas em Angola: primeiro, diminuir a influência do MPLA no Parlamento – isso é possível neste momento; segundo, desalojar o MPLA. Mas a oposição tem de estar firme e tem de assumir os mesmos riscos que qualquer cidadão angolano assume, corre. Portanto, se não tiverem este objetivo vai ser completamente impossível.

DW África: O que é que se pode projetar para as próximas eleições? A Frente Unida conseguirá ou não se impor a todas essas correntes contra?

OK: Eu acho que é possívelque ela consiga se impor,mas há muitas adversidades. Então, eles têm de ter um grande objetivo, que não pode ser um objetivo só dessa frente. Tem de ser um objetivo que abarque outras sensibilidades.

DW África: Quais?

OK: Nos encontros públicos em que houve comunicações conjuntas da Frente Patriótica Unida, da Frente para a Alternância, ficou claro que há uma grande vontade de englobar outras sensibilidades, com realce para a sociedade civil, que é uma unidade política bastante interessante e também interessada na alternância e importante para as dinâmicas políticas. Se assim acontecer, então poderemos ter grupos da sociedade civil, figuras da sociedade civil, individualidades a apoiarem esta Frente Patriótica. Ali sim poderemos ter uma grande vantagem.

 

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