Analista acredita que sim. O objetivo, a ser ver, é não convocar eleições autárquicas em 2021. E David Sambongo alerta que incumprimento do que foi debatido com os jovens pode dar aso a novas manifestações.
O diálogo entre os jovens e o Presidente de Angola, João Lourenço, terminou ao meio da tarde desta quinta-feira (26.11), em Luanda, e contou com várias intervenções dos jovens.
Francisco Paciente responsável da Nova Aliança dos Taxista (ANATA) pediu a inserção desta franja profissional na Caixa de Segurança Social: “Precisamos também da formalização e da carteira profissional destes taxistas para que uma única entidade trate desta matéria. ”
Já Francisco Teixeira, líder do Movimentos dos Estudantes Angolanos (MEA), lamentou o facto de ainda existir em muitas escolas públicas milhares de alunos que aprendem sentados em pedras e latas.
“Convidamos vossa excelência também, quando tiver um tempo, a visitar algumas escolas públicas para ver a realidade”, pediu a João Lourenço.
Por seu turno, o humorista Costa Vilola do grupo “Os Tuneza” pediu mais valorização da classe artística angolana. Sobretudo, pediu a isenção de imposto a determinadas atividades culturais, justificando que “não é normal uma produtora de espetáculos pagar o mesmo imposto que uma Unitel ou uma Sonangol. Quando não temos o mesmo nível de rendimento.”
Para além dos pedidos, houve também sugestões. A Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola (JMPLA), por exemplo, sugeriu ao Presidente angolano a criação de um programa de fomento a participação da juventude no aumento da produção interna.
Crispiniano dos Santos, 1.º secretário da organização juvenil dos “camaradas”, explica que esta seria “a via assertiva para inclusão económica dos jovens de todos os extratos, principalmente daqueles que habitam nas zonas rurais”.
Democratizar acesso à Educação
Já, Agostinho Kamuango secretário-geral da JURA – a Juventude da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) – levantou os temas do desemprego e habitação.
“O número dos jovens no desemprego aumentou substancialmente. O acesso à educação constitui um dos principais problemas da maioria da juventude angolana”, exortou.
Eduardo Garcia Secretário Nacional da Juventude Patriótica de Angola, braço juvenil da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), questionou o seguinte: “Gostaríamos também de ouvir do Presidente da República alguma palavra sobre em relação a implementação das autarquias no próximo ano.”
Para além destas, houve também a participação de alguns “revus” como Manuel Chivonda “Nito Alves”. Algumas inquietações foram respondidas na hora, outras virão ou não com o tempo.
Para quando as autárquicas?
O Presidente João Lourenço mostrou-se cético sobre se haverá autárquicas em 2021.
“Eu não sei se será no próximo ano. No dia 15 de outubro, há pouco mais de um mês, há um mês e meio, fomos muito claros em relação às eleições autárquicas. O país precisa de instituir as autarquias? Sim, precisa.”
João Lourenço reconhece que Angola é um dos poucos países da África austral que não realiza autarquias, facto que, segundo ele, pode ser considerado vergonhoso.
“Até 2018, não se fez absolutamente nada, não se deu nenhum passo em concreto para a institucionalização do poder autárquico em Angola. O primeiro aconteceu em 2018 quando eu coloquei a necessidade das autarquias aos membros do conselho da república”, constatou.
O Presidente não tem dúvidas de que o país terá eleições locais. Mas ele próprio se questionou: quando haverá autarquias?
“O país só pode realizar eleições se tiver suporte legal. Ou seja, se tiver o pacote legislativo aprovado.”
Repressão policial
Em relação as manifestações, o Chefe de Estado lamenta o excesso policial e a morte de manifestante. Mas diz que a polícia não usou balas reais para reprimir os protestos do dia 11 de novembro.
“A nossa posição é que a polícia deve sempre acompanhar a manifestação até para proteger a própria manifestação e para proteger o bem público e manter a ordem e sempre que possível deve evitar excessos”, defende.
A DW África perguntou ao politólogo angolano David Sambongo se este diálogo entre o Presidente e a juventude pode ser entendido como uma pausa ou fim dos protestos de rua sobre desemprego, autarquias e melhores condições de vida.
“O não cumprimento das questões que se levantaram nesse diálogo poderão desembocar em novas manifestações. Portanto, toda a ação tem uma reação e nós precisamos entender que as reações são de curto, de médio, de longo prazo.”
Manobra dilatória?
Sobre as eleições autárquicas, o analista lamenta a intervenção de João Lourenço que chama de manobra dilatória que espera pela conclusão da aprovação do pacote autárquico para se convocar as eleições locais.
“Demonstra e manifesta claramente que não tem intenção de ver as eleições autárquicas materializadas em tão pouco tempo e que está a fazer uma agenda dilatória para a não efetivação das autarquias locais”, afirma.
Este não é o primeiro diálogo entre a juventude e o Presidente da República desde que chegou ao poder em setembro de 2017. Já houve auscultação dos problemas dos jovens no Zaire e no Bié.
Também, em 2013, o seu antecessor, José Eduardo dos Santos já teve o mesmo procedimento.