A agência de notação financeira Moody’s estima que Angola vai terminar este ano com uma dívida pública a valer 110% do Produto Interno Bruto (PIB), canalizando 28% das receitas fiscais apenas para pagar a dívida.
De acordo com o relatório que analisa a evolução das economias da África subsaariana, enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso, a Moody’s considera que Angola terá uma dívida pública equivalente a 110% do PIB este ano e que a parte das receitas fiscais usadas para servir a dívida vai aumentar da média de 18% entre 2015 e 2019 para 28% este ano.
No relatório, os analistas alertam que “a depreciação das moedas vai encarecer os custos de suportar a dívida e criar problemas à sustentabilidade da dívida” de vários países nesta região, onde a dívida em moeda estrangeira vale mais de 60% do total.
“Moçambique, Ruanda, Senegal, República do Congo e Angola são particularmente suscetíveis ao aumento do peso da dívida via depreciações da moeda, com a dívida em moeda estrangeira a valer mais de 70% do volume total”, lê-se no relatório, a que a Lusa teve acesso, e que coloca a dívida pública de Moçambique nos 115%, este ano.
Em Angola, a Moody’s prevê que o kwanza desvalorize mais 10%, num contexto de “condições de financiamento governamental desafiantes, o que torna mais caro cumprir as obrigações financeiras em moeda estrangeira”.
Sobre a recuperação económica prevista pelo Governo e por várias instituições internacionais, a Moody’s antecipa um crescimento de 2,5% este ano em Angola, um país que, em conjunto com a Nigéria, “será dos mais afetados entre os produtores de matérias primas”.
Os efeitos da pandemia de covid-19 na região, alertam os analistas, serão “profundos e duradouros”, não só pelo impacto imediato em termos de quebra na atividade económica, mas também porque os principais clientes dos países exportadores de matérias primas, como é o caso de Angola com o petróleo, estão a comprar menos.
A isto, acrescentam, juntam-se a subida dos juros e as dificuldades financeiras dos países: “Os persistentes défices orçamentais num contexto de reduzido crescimento económico vão manter o peso da dívida elevado para os países da África subsaariana até médio prazo”, diz a Moody’s, que antevê que a dívida média da região suba para 64% do PIB a curto e médio prazo, o que compara com os 47% de média entre 2015 e 2019.