Os enfermeiros dos hospitais primários de Luanda estão em greve. Exigem o cumprimento das promessas feitas pela entidade patronal, que são de melhorar as condições sociais dos técnicos e também das unidades sanitárias.
Depois de quase dois anos de discussão sem consenso com a entidade patronal, o governo da província de Luanda, os técnicos de enfermagem dos hospitais primários da capital angolana decidiram paralisar os trabalhos. O caderno reivindicativo não é respondido desde fevereiro de 2020, segundo o Sindicato dos Técnicos de Enfermagem.
Esta segunda-feira (20.12), duas semanas após a greve dos médicos levantada no fim de semana, a DW África visitou alguns hospitais municipais. No Hospital do Talatona, somente os enfermeiros escaldados para trabalhar estavam no local. As consultas externas estão encerradas, pois é suportada pelos enfermeiros. O mesmo cenário vive-se no Hospital Materno Infantil do Kilamba Kiaxi. Vários pacientes foram forçados a regressar porque não havia técnicos para os atender.
Serviços mínimos
Em declarações à DW África, o delegado da greve dos enfermeiros no Kilamba Kiaxi, Elísio Magalhães, disse que até a próxima sexta-feira, 24 de dezembro, os técnicos vão trabalhar apenas para os bancos de urgências:
“Nas salas de partos e banco de urgência, onde normalmente trabalham dois profissionais, vai ficar um. Onde trabalham três, vão dois e assim sucessivamente, para mantermos os piquetes dos bancos de urgência a funcionar. As consultas normais estão todas encerradas, as consultas externas”, disse Elísio Magalhães.
A greve decore somente em Luanda, mas os profissionais de todo o país vivem as mesmas dificuldades. Elísio defende a humanização dos serviços e técnicos de saúde.
“Os profissionais de saúde são esses não têm casa própria. São esses necessários para prestar atenção à nossa população em péssimas condições. E quando estão enfermos, não há assistência médica e medicamentosa para os profissionais de saúde”, queixa-se.
Há mais de 20 anos na enfermagem, Domingas Neto, diz que nos hospitais falta o básico para atender os pacientes. Afirma diz que “o enfermeiro desprezado é o técnico que está aí quando o médico não está. O enfermeiro não pede só dinheiro. Está pedir também condições de trabalho porque tenho técnicas para reanimar alguém que está sucumbir, mas não tem o material” e depois questiona: “Vou fazer o quê?”
Utentes com posições diferentes
A cidadã Teresa dos Santos, utente do Hospital Materno Infantil do Kilamba Kiaxi, diz não ter condições para ir a um hospital privado, por isso discorda da greve dos enfermeiros, após lhe ter sido negado o atendimento ao filho.
“Não acho isso correto, porque as crianças estão doentes e merecem ser atendidas”, lamenta para depois questionar: “Não podiam fazer greve no mês de dezembro, período em que surge epidemias devido às chuvas?”
Mas Zumba Teresa, outra utente, apoia a greve: “Já internei aqui no Avô Kumbi. Já não vou mais a outro hospital e é só aqui que venho. Cheguei aqui e os médicos dizem haver greve. Têm que lhes pagar, têm que lhes pagar. Estou a dizer isso para o Governo ouvir”.
Nesta terça-feira (21.12) está agendada uma assembleia de trabalhadores, onde a entidade empregadora poderá apresentar propostas para a resolução da reivindicação dos técnicos de enfermagem.