Universitários angolanos criticam o que chamam de partidarização das associações de estudantes no ensino superior. Queixam-se que os dirigentes são membros da JMPLA, que não zela pelos interesses estudantis.
Nos últimos anos, vive-se um clima de tensão nas instituições do ensino superior devido ao aumento constante das propinas e outros emolumentos e mais recentemente a greve dos professores que caminha para o segundo mês.
Os estudantes protestam, mas nem com isso as reivindicações são atendidas. Uns são detidos e outros até são suspensos e expulsos das universidades por criticarem as decisões das reitorias.
Em muitos desses casos, as associações dos estudantes mantêm-se em silêncio face às injustiças contra os formandos, denunciam os universitários angolanos.
Márcio da Silva, que frequenta o quarto ano na Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, diz que as associações responsáveis por mediar o conflito entre os estudantes e as direções das faculdades não representam os interesses dos associados.
“Todos os presidentes das associações dos Estudantes da Universidade Agostinho Neto (UAN) são políticos do MPLA. Ninguém dá a cara a favor dos estudantes”, disse o estudante na marcha sobre o retorno às aulas nas universidades.
Expulso por criticar?
Adilson Manuel, estudante do curso de sociologia da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, diz que não são apenas as associações que estão partidarizadas. Também as reitorias sofrem do mesmo problema.
Adilson arrisca ser expulso da instituição por organizar manifestações contra o preço das propinas nas universidades públicas. E queixa-se de não receber apoio da associação dos estudantes.
“Muitos estudantes não têm condições para pagar os custos que a faculdade exige. Tenho criado inúmeras campanhas para sensibilizar a própria direção da faculdade e também a direção do ensino superior público, de modo a analisar esta situação”, explica Adilson.
O estudante teme sofrer consequências da batalha pelos interesses académicos. “No âmbito disso, sofro represálias internas na faculdade, perseguições que culminaram com este processo disciplinar em que tudo indica que vai culminaram com a minha expulsão da academia”, relata.
As universidades privadas também estão sob o dedo do MPLA. Luís Manuel, que estuda Direito no Instituto Superior do Cazenga, diz que as associações de estudantes são figuras decorativas.
“Os presidentes das associações de estudantes só estão como figura, não funcionam. Não conseguem defender os estudantes. Às vezes até as dificuldades mínimas eles não conseguem resolver porque fazem parte do partido. Temos provas porque são membros dos Comités de Ação do MPLA e têm cartões de membros. Conheço muito deles”, afirma.
Manifestação boicotada pela associação
O presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, concorda que “os presidentes das associações representaram um papel triste quando foram para rádios e televisões desinformar a sociedade, dizendo que a manifestação estava adiada, uma manifestação não convocada por eles”.
O líder da organização que defende os direitos da classe estudantil, apresenta como prova o “boicote” registado na véspera da realização da marcha pelo retorno às aulas nas universidades, e exigiu diálogo entre o Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e os professores universitários em greve desde 3 de janeiro.
“Não é justo ir a um órgão público cancelar uma atividade que não convocou. E eles fizeram isso. A TPA e a TV Zimbo noticiariam por dias seguidos que a manifestação estava adiada”, explica Teixeira.
O presidente do MEA conclui dizendo que “se os estudantes acusam os presidentes das associações de estarem ligados à JMPLA, eles sabem o porquê, convivem com eles e têm os seus motivos”.
Quem elege representantes “são os estudantes”
Em reação às acusações, o presidente da Associação dos Estudantes das Universidades Privadas de Angola (AEUPA), Joaquim Cayombo, diz que os cargos de presidente das associações são incompatíveis com as funções partidárias.
Ainda assim, este admite que as organizações estudantis são meios pelos quais muitos jovens ascendem à política. “Os nossos cargos aliciam tanto à oposição como o Governo. Mas não tem como serem jovens da JMPLA porque quem elege são os estudantes. Os estudantes são de várias naturezas. Então, isso é falso”, afirma.
“Não sei a experiência nas universidades públicas, talvez isso aconteça lá. Mas nas universidades privadas não, porque as próprias universidades fiscalizam e querem um jovem disciplinado, um presidente da associação responsável e que não tenha estas afiliações”, disse Joaquim Cayombo à DW África.