Eu não tenho nada a ver, aliás o responsável da segurança de Estado naquela altura (do Sinfo) nem sequer falava comigo, o Vieira Lopes.
Porque ele não participava nas ações de campo do governador, muitas vezes que o governador tinha reuniões ele não participava, mas eu via por exemplo ele a participar em ações do município de Luanda, eu cheguei muitas vezes a perguntá-lo (você é delegado provincial ou delegado municipal?) e então, não admitia uma pessoa que não participava nas ações do governador entrar depois de mim nas reuniões. isso é só para dizer que se ele é o responsável do Sinfo na altura, como é que podia, digamos levar ao conhecimento do governador quando até não tinha relações com o governador?
Quem me deu a conhecer do (Caso Camulingue e Cassule) foi o ex Procurador Geral da República (João Maria de Sousa), ligou para mim e perguntou se no comité provincial nos tínhamos um segurança chamado (Chéu) e eu disse (sim) ele disse (manda-o vir amanhã ao meu gabinete amanhã as 09 horas. Ligo para o Comité Provincial porque na altura eu estava no GPL, ligo para o comité provincial e o indivíduo no dia marcado vai a PGR, só que dois dias depois ele não volta para casa e a família vai ao Comité Provincial e diz (o primeiro secretário chamou o nosso parente e o nosso parente não aparece) eu pego no telefone e ligo novamente para o doutor, mas (olha o indivíduo já esteve aí?) e o doutor diz sim, mas ele não voltou para casa e as famílias estão no Comité Provincial, ele diz (oh! Governador vem cá e vou te contar o quê que está de passar).
Eu posto na PGR, o Procurador-geral da república, diz (olha, eu estou nesse momento a fazer um inquérito em relação ao desaparecimento de Cassule e Camulingue por orientação do Presidente José Eduardo dos Santos) e nós, começamos por vasculhar os telefones dos malogrados e encontramos vários nomes inclusive o desse indivíduo do Comité Provincial.
Segundo o Procurador-geral da república, contou-me isso é, no entanto, e eu cá comigo digamos como é que o Chéu participou? E o PGR contou-me disse (olha, o grande problema é que são vários indivíduos cujos telefones digamos que os telefones foram rastrearias e encontramos a participação deles, no entanto, gostaria também de informar ao governador que esse inquérito já estava a ser feito pelo ministro do interior, Ângelo da Veiga, mas como o inquérito foi inconclusivo o presidente José Eduardo dos Santos deu-me essa missão).
Vou dizer uma coisa, o senhor Chéu nunca foi nem minha escolta, nem meu segurança, nem nada, ele nunca foi meu segurança, os seguranças dos dirigentes são indicados pela UPIP, vão a UPIP e façam uma averiguação na UPIPI e vejam de o Chéu esteve algum dia na cápsula da minha segurança, nunca.
O importante é que quando o meu nome começou a soar, eu fui ter com o Procurador João Maria, quando eu cheguei ao gabinete dele eu disse olha, (o meu nome está a soar eu tenho alguma coisa a ver com isso?) Ele disse, (Bento, vou contar uma coisa, mas, não te assustes, o Sinfo precisava de um jovem sonantes para o Presidente José Eduardo dos Santos parar com o processo e foste eleito, foste indicado como o homem para parar o processo, eu disse (olha, não tenho família? Não tenho filhos?) Engraçado, e quando o nome continuou novamente o velho Mendes de Carvalho e o “ Miau” é testemunha, ele disse ( meu filho, vai ter novamente com o João Maria, mas quando estiveres a falar com ele olha nos olhos dele porque esses gajos são lixados) e foi o que eu fiz, liguei para ele, fui novamente até ele e disse (olha procurador, diga-me por favor, se eu estou envolvido nisso) ele disse ( não estás, é aquilo que eu te contei, eles precisavam de um nome para o Presidente José Eduardo dos Santos parar com o processo e portanto, entre os nomes sonantes escolheram o teu) eu saí, fui a casa do velho Mendes e ele disse ( meu filho, já foste? Fui. Lhe olhaste nos olhos? Olhei. O quê que ele disse?
Não, não estás metido, quer dizer, nem podia estar, e veja só o engraçado,1 ainda eu saio da PGR chamo o Chéu não presença do meu director de gabinete do Comité Provincial e eu disse (olha, o procurador contou-me coisas horríveis ao teu respeito, você está envolvido) ele (eu não, não, é falso, é mentira) eu disse (o quê? Quer dizer que o Procurador mentiu?) ele disse (não, não é verdade) estava envolvido e por isso foi condenado. Em resumo, tanto o 27 de maio como essa maka do Cassule e Camulingue não me admira que são indivíduos que digamos bem conhecidos e até digamos determinados que têm estado a usar essa arma contra mim, com objectivos indefesos.
Caso 27 de maio de 1977
Um jovem que até merece o meu respeito, dizendo que eu estava metido no 27 de maio. Devo dizer com toda sinceridade que eu não tenho nada a ver com o 27 de maio.
Está aí o doutor Sérgio Raimundo que é testemunha, quando alguém ligado ao 27 de maio levantou pela primeira vez e a questão é incluiu o meu nome no 27 de maio, o doutor Sérgio Raimundo foi o meu advogado, preparamos um processo e fui ouvido pelo doutor Rui Viriato o processo estava a ser preparado, só que depois, prontos, caiu na tal amnistia e depois saiu e o processo ficou em nada.
O meu irmão mais velho, Sebastião Joaquim Sebastião Francisco Bento, foi membro da Comissão de bairro do Sambizanga, eleito nas eleições gerais de 1976 e foi um dos presos do 27 de maio e felizmente sobrevivente e o que mais me dói é que eu e a minha família sofremos muito com o 27 de maio, porque quando o meu irmão mais velho é preso, no Cuanza Norte o meu pai também foi preso pelo facto do meu irmão ter sido preso. Quem era o Bento Bento na altura, em 1976?
Eu não era membro da Comissão Diretiva, o curioso é que não falam dos responsáveis da J provincial, porque Bento Bento não era primeiro secretário, não era segundo secretário, não era terceiro secretário, não era quarto secretário, eu estava apenas num departamento que era a secção de enquadramento… Na altura eu tinha 17 estava a fazer 18 anos, era jovem, e, portanto, não falam do primeiro secretário, na altura o coordenador geral, não falam de nenhum deles e vêm falar o meu nome porquê?
Inclusive eu estava numa secção onde estavam os 20 coordenadores dos comités de bairro da JMPLA e nenhum desapareceu, na altura tivemos a prisão do Santos Domingos, no Sambizanga, mas está aí vivo da Silva, quem o prendeu, foi o Bento Bento? Não. Quem o denunciou, foi o Bento Bento? Não. Por isso é que quando se fala hoje da reabertura do processo do 27 de maio, eu fico satisfeito porque vai se encontrar todos nomes menos o do Bento Bento. Eu nunca fui da Disa, nunca fui da…
Eu e a minha família sofremos profundamente porque eu quando vi o meu irmão a sair da cadeia com as costas marcadas e cavadas, inclusive tinha feridas profundas nas costas, eu senti-me revoltado. E mais, quando prenderam o meu pai, um velho, epah, quer dizer, o quê que o meu pai, Joaquim Sebastião Francisco Bento, teve, tinha a ver com o 27 de maio? Nada, e, portanto, houve até um amigo meu que foi meu colega de carteira, o Simão Paulo, teve na cadeia em Ndalatando com o meu pai, o meu pai fez o quê? Só porque o meu irmão mais velho foi preso aqui.
Então, eu me pergunto, será que pelo facto de muitas dessas pessoas terem dado as 13 teses para ler e eu Bento Bento, olhei para as teses, li as teses e disse, (olha isso é maka de mais velho, não me meto) ponto final. Porque se o Bento Bento tivesse envolvido no 27 de maio, o quê que seria dos 20 responsáveis dos comités da saúde? Estavam dentro da secção de enquadramento da juventude nos bairros, mas a secção de enquadramento das juventudes dos bairros tinha um coordenador, Jesus Pedro de Barros, eu era o adjunto, depois tínhamos um secretário, e mais, olhem para a lista digamos de responsáveis da JMPL na altura: Delfim de Castro, Zé Agostinho que depois tiramos da conferência de Cabinda e foi para a J nacional, Ângela Bragança, Alfredo Júnior, Buca, Nelo Ruas, A Vivi (Dicência de Brito).