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Angola: Ex-primeiro ministro Marcolino Moco apela à “João Lourenço” a parar de atribuir culpas a quem não as tem

O ex-primeiro Ministro angolano, Marcolino Moco, em espécie de mensagem de Ano Novo, aproveitou a ocasião para agradecer os cada vez mais crescentes apoios a todas as suas mensagens anteriores, que são, especialmente provenientes de jovens.

Marcolino Moco, reconheceu primeiramente que muitos consideram as suas mensagens demasiado embaraçosas, porque dirigidas, especialmente, contra o Executivo do PR JLO, seu antigo companheiro do partido MPLA e que até bem pouco tempo o ofereceu um cargo muito bem apetecido que aceitara por expectativas que logo se diluíram.

A esses, mais uma vez pediu que entendam, que desde jovem, ao aderir a um partido que inicialmente tinha até pouca implantação na região onde nasceu, cresceu e se formou, nunca teve nas suas contas que o fizesse no sentido de resolver as questões ligadas ao seu status, especialmente de ordem material.

Segundo Moco, dentro do MPLA, quando se tornou visível que o modelo político, económico e social, entre 75 e 91, não era o mais adequado para a estabilização do país, sabem os que com ele trabalharam no MPLA, que foi dos membros mais activos para as transformações que conduziram à instituição do Estado democrático e de Direito que se proclama.

Reatada a guerra, realça, mesmo ainda exercendo o cargo de primeiro-ministro (cargo exercido há cerca de 30 anos, mas que alguns entendem dever-me obrigar a calar-me perante os problemas de hoje, por gratidão a quê e a quem?) e depois na CPLP, a história documenta as minhas intervenções em prol da paz que devia ser alcançada a todo o custo, porque aquela guerra não fazia sentido.

Tanto não fez sentido que a suposta derrota militar de uma das partes, só agravou, afinal, os problemas, porque os supostos vencedores passaram a fazer do Estado angolano um brinquedo para os seus jogos de poder e opulência.

“Não falo nem da fome, nem da indigência da maioria do povo e da sua classe média, muito menos da corrupção que são consequências da destruição das instituições que vou enumerar, só para recordar o que, afinal, toda gente vê, com olhos de ver”, disse.

Para Marcolino Moco, o que vinha já de algum tempo, quando a ala chefiada pelo Secretário Geral Lopo de Nacimento, à qual eu pertencia, foi afastada da direcção, no Congresso de 1998, foi formalizado quando, em 2010, o MPLA, ante manobras e mais manobras do PR JES e dos seus homens do Palácio, decidiram atar o destino do MPLA e de Angola ao Presidente do MPLA, da República e candidato às próximas eleições.

Hoje, adianta, mesmo quem não queira votar no actual PR que é presidente do MPLA, por atitudes tão reprováveis quanto as que se vêm a olho nu, desde que seja fervoroso e indefectível adepto do MPLA, por diversas razões como geracionais, étnico-regionais, defesa do estatuto material, entre outras é obrigado a aceitar todos os incêndios mandados atear pelo chefe supremo e votar no Presidente.

“Acabo de ler uma mensagem de Sua Excelência Reverendíssima o Arcebispo Emérito da Huila, Dom Zacarias Kamwenho, a propósito da comemoração do 20º aniversário da recepção do Prémio Shakarov, pela sua contribuição corajosa, para o fim do conflito armado em Angola. Numa das passagens dessa mensagem, há esta afirmação muito significativa: “…só o Senhor Presidente tem o PIN e o PUK de salvar Angola ….”. E eu pensei: afinal não ando a pensar nisso sozinho”, observou Marcolino Moco.

Disse ainda que, na verdade, no fim da guerra e com esta Constituição, todos os queijos e facas foram entregues a uma só mão, o que tem muitas vantagens quando se acerta e demasiadas desvantagens quando se erra.

O que fez o Senhor Presidente com todas estas facas e queijos, em 2021?

O antigo Primeiro-ministro entende que ao priorizar o dito “combate à corrupção”, acabou definitivamente com os instrumentos mais idóneos para o combate à corrupção, dando as últimas facadas aos tribunais superiores, que agora só ficaram no nome e nos papéis.

Considerou também que, de forma perfeitamente audível, consolidou o controlo palaciano aos meios de comunicação social mais relevantes, fez uma perfeita demonstração de como o parlamento, dominado pelo seu partido, não tem que subordinar-se a qualquer ordem de ética e moral políticas, quando se trata de criar instrumentos para a manunteção do poder do MPLA, que não é mais do que o seu próprio poder.

“Por isso temos que 2022 é uma bomba armadilhada. Porque em nenhuma parte do mundo, onde as eleições sejam justas, livres e transparentes, um partido governante ganha eleições, da forma como estão as coisas neste país”, apelou Moco.

No entanto, acrescentou igualmente, o Senhor Presidente manda dizer “já está”, diante de medidas de exclusão tão evidentes. E já se vêem ensaios sobre quem vão recair as culpas: supostos generais da UNITA que mesmo sem quartéis, nas matas ou cidades, estão, supostamente, a preparar guerras ficcionadas em mensagens que só quem está distraído e não conhece os métodos antigos, não verá que se trata de montagens.

“Não estou a mentir, amigos. Eu estava a terminar de escrever a mensagem que acima coloquei entre aspas, quando ouço o Presidente da República, na “colectiva” de quinta-feira passada, transformar o que devia ser uma mensagem conciliadora, de alguém que é chefe de Estado, em momento tão delicado, num repente de ataque à oposição, na sua busca legítima pela alternância, na moda ocidental que todos nós escolhemos, com aquela coisa “daqueles que mobilizam jovens para as arruaças”; e mais uma vez, aquela coisa da transferência para os “tribunais” de competências que não têm, em matéria de exclusão de indesejados para a disputa do poder político, nem que seja necessário remover juízes na última das horas, como se faz aqui por algumas “áfricas”, que gritam, no entanto, a sete ridículas gargantas, que estão a construir sociedades puramente democráticas e de direito, como em França ou Portugal”, conforme Marcolino Moco.

Assim, salienta, nesse atraso para corrigir o “português” na minha “mensagem de ano novo”, para não irritar os mais sensíveis nessa matéria, surgem os horripilantes acontecimentos do dia 10 de janeiro e a subsequente mensagem do Presidente João Lourenço, já a prever a quem “os tribunais” vão atribuir as culpas. E as nossas TPA’s, a “bater no ferro quente”, “talqualmnente” no tempo do meu conterrâneo Ndunduma we Lepi.

Marcolino Moco afirma saber perfeitamente que nem todos terão culpa para a situação a que estão a ser arrastados, senhores jornalistas e senhores juízes. “Mas resistam até onde puderem. Não contribuam para que se repitam, nesse tempo, as tragédias do passado”.

Quanto ao Senhor Presidente, Moco acredita que ainda vai a tempo de considerar que métodos antigos já não funcionam neste tempo, apelando a reunir com a oposição para organizarem, em conjunto, eleições verdadeiramente livres, justas e transparentes.

Com isso, acredita então que aumentarão os seus votos e do MPLA, como se demonstrou pela simpatia que o presidente granjeou, nos primeiros dias da sua governação, tendo exortado a que prevejam uma espécie de situação transicional que deve ser divulgada, para que independentemente de quem ganhe, ganhe a paz e a tranquilidade definitiva de Angola e dos seus filhos.

“E ganhará muito o senhor Presidente, em termos de História. Quase ninguém se lembra hoje que Winston Churchill perdeu as eleições que se seguiram ao fim da sua grande obra que foi a liderança positiva da guerra contra Hitler, na Segunda Guerra Mundial. Faz isso Senhor Presidente. Não continue a por o país em alvoroço e atribuir culpas a quem as não tem. Por favor”, defendeu.

 

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