O professor universitário frei Mário Rui considerou, esta quinta-feira, que o crédito malparado, grande parte repassado à Recredit (gestora de activos), foi causado em grande parte por falta de ética bancária, contrariando razões técnicas (risco) defendidas por certas instituições.
Frei Mário Rui que, dissertou sobre “ Gestão de Riscos e Formação Ética na Banca”, num evento promovido pelo Sindicato Nacional dos Empregados Bancários de Angola-SNEBA, referiu-se às “ injecções” financeiras feitas pelo Estado, nos banco de Poupança e Credito (BPC) e o Banco Económico (BE), para se evitar falência.
“ Em todas as instituições há um volume de crédito malparado que é inerente ao risco. Mas que o Estado tenha de intervir para evitar a falência de instituições bancárias é um péssimo sinal sobre o funcionamento do sistema financeiro”, referiu.
A título de exemplo, disse, no processo de recuperação do BPC, em quatro anos, isto é desde 2015, terão saído dos cofres públicos quase cinco mil milhões de dólares, entre aumentos de capital e transferência de crédito malparado para a Recredit, de acordo com o jornal Expansão.
Referiu que, até 31 de Dezembro de 2020, o stock de crédito do sector bancário estava avaliado em 4,6 biliões de kwanzas (Kz). Considerando o nível de malparado de 18,41% do período, acrescentou, significa que do stock geral de crédito da banca Kz 844 mil milhões estava malparado.
Segundo o palestrante, “o malparado sobre o total de crédito da banca nacional caiu para o valor mais baixo desde Março de 2017, ao fixar-se nos 18,41%, até ao final de 2020, influenciado pela cedência de 80% da carteira de crédito de cobrança do BPC à Recredit, no valor de 951 mil milhões de kwanzas, de acordo com os indicadores de solidez do mercado, compilados pelo Banco Nacional de Angola (BNA), divulgados pelo jornal Expansão”.
O também professor de Ética Empresarial na Universidade Católica de Angola (UCAN) afirma que “não foram falhas técnicas, os riscos que tiveram na base da maior parte do crédito malparado, foram falhas éticas na tomada de decisão”.
No seu entender, muitos empréstimos foram concedidos sem o cumprimento dos requisitos de compliance e quem tomou a decisão já sabia que, muito provavelmente, este dinheiro não seria reembolsado.
“E com os volumes em que estes erros foram cometidos, é evidente que tal prática colocou em risco as próprias instituições financeiras e a própria economia”, observou.
O docente defende que se a decisão tivesse sido ética, os recursos aplicados nas referidas instituições financeiras, poderiam ter sido empregues na educação, saúde, ensino superior e no desenvolvimento da própria economia do País, para quem “ os erros éticos cometidos pela banca têm um custo enorme para a sociedade”.