Mais de quinhentas famílias lutam pela sobrevivência no aterro sanitário do Lobito em Angola. A situação arrasta-se há quase duas décadas. Os residentes pedem água, alimentos e perspetivas para o futuro.
Falta de tudo um pouco às centenas de pessoas que vivem e sobrevivem no aterro sanitário na circunscrição de Caimbra, município do Lobito, Angola. Não há água, nem energia elétrica, escolas ou emprego. Perspetivas para o futuro? Nunca existiram.
“Estamos aqui há mais de 19 anos, porque não temos um lugar digno para ficar”, começa por dizer à DW África o morador Pedro Gangula.
“Estamos aqui à procura da sobrevivência do dia a dia, com as nossas crianças, todos os dias. Não temos escolas, centro médico também não existe”, lamenta.
“Quando acontece uma enfermidade de uma mamã que está a fazer um parto, de uma pessoa doente, tem sido muito difícil, não temos aqui transporte e há uma escuridão à noite”, acrescenta.
Uma questão de sobrevivência
Estes cidadãos fizeram do aterro sanitário a sua própria casa por uma questão de sobrevivência. Devido à falta de trabalho, a atividade diária destas pessoas passa por recolher garrafas, ferro e plástico para proceder posteriormente à sua comercialização.
“O nosso dia a dia é mesmo aqui… Pegamos alguns negócios que tiramos do buraco e vendemos… Tiramos do lixo, porque não há trabalho suficiente”, confirma Florinda Ester que admite não conhecer outra vida.
A situação no aterro sanitário do Lobito é conhecida no resto da província de Benguela. De vez em quando, o Governo envia alguma ajuda. Mas os residentes dizem que isso não chega e lançam um grito de socorro. Paulo Solave pede bens essenciais – água, arroz, farinha, açúcar – além de assistência médica e medicamentosa.
“Aqui, se nos alimentamos, é mesmo aí no lixo. Pedimos ao Governo que olhe para nós. Conforme estão a ver, há carência de água, comida, roupas e principalmente da parte da saúde”, indica. “É mesmo um problema”, reitera.
Entregues à solidariedade
Na semana passada, a organização não-governamental (ONG) “Lobito de Mãos Dadas” levou a cabo uma campanha de angariação de alimentos não perecíveis, roupas, material de limpeza e biossegurança para ajudar as famílias desfavorecidas que vivem no aterro sanitário do Lobito.
Ananias Bento, coordenadora daquela ONG, admite que o mais difícil tem sido conseguir água potável. A médio prazo, o objetivo é construir um tanque comum para minimizar os problemas.
“Hoje conseguimos trazer um camião-cisterna… Estamos agora com o projeto de construir um tanque de água. Temos mestres [pedreiros] aqui nesta zona”, afirma.
“Vamos aproveitar essa mão-de-obra e, com os nossos empresários, criar condições para que tenham um tanque de água e semanalmente teremos aqui um carro cisterna para ajudar essa comunidade”, conclui.