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Angola: Fiéis da IURD Angola “pedem abertura das igrejas e contestam reforma”

Milhares de fiéis da IURD Angola desfilaram hoje na marginal de Luanda, reivindicando a abertura dos templos e defendendo a união da igreja, envolta em conflitos internos que culminaram na criação de uma Comissão de Reforma recentemente legitimada

“Queremos a nossa igreja”, gritavam os fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que se juntaram hoje desde as 14:00 junto do porto de Luanda, de onde partiram, sob um sol intenso, em direção à Fortaleza de São Miguel, o marco histórico mais antigo da capital angolana.

Com ‘t-shirts’ alusivas ao protesto, cartazes e tarjas, os fiéis, obreiros e pastores da IURD Angola quiseram deixar claro que estão contra a ala dissidente, que se constituiu na Comissão de Reforma, cujo líder, bispo Valente, foi recentemente reconhecido pelo Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR) como representante da igreja de origem brasileira em Angola.

“Nós, os membros e obreiros angolanos não aceitamos a reforma”, lia-se numa faixa. “Aceitar a reforma é legalizar o crime”, dizia outra. “Angola é um país laico. Queremos a liberdade religiosa” e “IURD, um só corpo, uma só fé e um só espírito”, eram outras das frases visíveis.

Joana Domingos, uma das participantes, apelou ao Governo para que sejam abertas as portas das catedrais.

“Já estamos há um ano de portas fechadas, é muito tempo, queremos que o nosso Governo, o nosso Presidente João Lourenço ajude a abrir a igreja, o nosso país tem lei”, pediu.

A Procuradoria-Geral da República de Angola apreendeu e mandou encerrar, no ano passado, as catedrais da IURD em várias províncias angolanas pela alegada prática dos crimes de associação criminosa, fraude fiscal, exportação ilícita de capitais e outros ilícitos de natureza análoga, na sequência da disputa entre os dissidentes da ala angolana e os pastores brasileiros da igreja fundada por Edir Macedo.

A IURD considerou entretanto que as apreensões são ilegais e um atentado à liberdade religiosa.

“A igreja está a fazer muita falta ao povo angolano, muitas almas estão a sofrer e nós, as mamãs, estamos cansadas. Com esse sol estamos aqui a apelar ao Governo para nos ajudar”, desabafou Joana Domingos à Lusa.

Questionada sobre a disputa, considerou que se trata de “um grupo de ex-pastores que querem dividir a igreja” e que é “a lei que deve resolver os problemas”.

A ala angolana afirmou que a decisão de romper com a representação brasileira em Angola, encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves, fiel a Edir Macedo, se deveu a práticas contrárias à religião, como a exigência da prática da vasectomia, castração química, práticas de racismo, discriminação social, abuso de autoridade, além da evasão de divisas para o exterior do país.

As alegações são negadas pela IURD Angola que, por seu lado, acusou os dissidentes de “ataques xenófobos” e agressões a pastores e intentou também processos judiciais contra os ex-membros.

“Não há nada no mundo que não tenha solução, tem que se resolver, é por isso que a lei existe”, defendeu Joana Domingos, dizendo que “se há provas” devem ser apresentadas.

Magalhães Carlos, obreiro da IURD também pediu auxílio ao Governo angolano para encontrar uma solução que permita a retoma dos cultos.

“Estamos aqui hoje para mostrar a nossa revolta, estamos cansados de ver as portas da igreja fechadas. A igreja é uma escola, é um hospital, é um lugar onde aprendemos tudo o que é bom. O Governo angolano nem sabe quanto está a perder nisso”, afirmou à Lusa.

O religioso criticou também a ala reformista, pois “a Igreja é só uma” e o bispo Macedo “ensina a disciplina dentro da Igreja”, considerando que as queixas dos dissidentes “não justificam nada disto”.

“Uma pessoa que diz que quer uma reforma, essa pessoa está fora do contexto espiritual”, contestou, criticando a revolta contra a direção da Universal.

Magalhães Carlos referiu ainda que a igreja não obriga à vasectomia, embora reconhecendo que há “um conselho” nesse sentido quando os obreiros pretendem ascender a pastores.

Adelino Valter destacou que os membros e obreiros da IURD estão insatisfeitos com o encerramento dos templos: “Estão impossibilitados de cultuar. Tendo em conta que o direito do culto é inviolável, de acordo com o artigo 41 da Constituição, o povo vem apelar ao Governo de Angola, às autoridades, que decidam o quanto antes sobre a questão”.

“Não é possível que a igreja seja acusada de determinados crimes e enquanto esses crimes não estão provados, a igreja é logo punida”, lamentou o crente, criticando o grupo de pessoas “que quiseram receber de forma ilegal a liderança da igreja”.

Ao contrário de manifestações recentes em Luanda, não autorizadas, a organização da IURD agradeceu, no final, o apoio prestado pelo Governo Provincial de Luanda e pelas autoridades policiais à iniciativa que, segundo fontes da igreja, juntou mais de 10 mil fiéis na marcha que culminou com uma oração.

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