A FLEC-FAC promete não deixar ninguém votar em Cabinda. Em entrevista à DW África, tenente-general Gelson Fernandes N’Kasu reitera prontidão para o diálogo com “políticos idóneos”, mas diz que não há “boa vontade” em Luanda.
Combates entre soldados das Forças Armadas Angolanas (FAA) e da Frente para a Libertação do Estado de Cabinda – Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC) causaram na segunda-feira (11.04) a morte de, pelo menos, 12 militares e 4 civis.
Em entrevista à DW África, o comandante da Região Militar do Belize, Gelson Fernandes N’Kasu, reitera que Cabinda está aberta ao diálogo e lamenta que do lado do Governo angolano não haja essa mesma “boa vontade”.
DW África: Os confrontos no município do Belize resultaram em dezasseis mortos, entre os quais quatro civis. Como justifica essas mortes?
Gelson Fernandes N’Kasu (GFN): Realmente houve ataques. Nós atacámos as forças invasoras de Angola e, por retaliação, elas atacaram e mataram quatro civis. Hoje, às 04h00, prosseguimos com a operação e atacámos e recuperámos a unidade da fronteira de Kissungo [Mbemba], onde recuperámos os meios bélicos e mesmo algumas antenas para captar algumas imagens.
DW África: No último fim-de-semana, a FLEC-FAC reiterou, através de um comunicado, “total empenho em encontrar uma solução pacífica” para o conflito. Mas isso não se coaduna com estas operações e muito menos com mortes de civis…
GFN: Chegámos a um acordo de cessação de hostilidades entre nós e as Forças Armadas Angolanas (FAA). Unilateralmente, nós respeitámos, mas infelizmente o lado do Governo nunca deu sinais positivos. Continuam a penetrar nas profundidades para atacar os nossos maquis [locais de refúgio] e nós não podemos cruzar as mãos. O nosso objetivo também é levantarmos as nossas armas para podermos defender-nos.
Infelizmente, o que a gente vê é que o Governo angolano não tem boa vontade e não dá sinais positivos. Enviam agentes de serviços especiais, enquanto que o caso de Cabinda não é um caso de segurança da Casa Militar ou da segurança do Estado. É um caso político. Nós estamos sempre abertos caso o Governo angolano dê bons sinais de negociações, mas na presença da comunidade internacional, porque o caso já dura há décadas e provocou vítimas de ambas as artes. Esperamos que o Governo angolano, liderado pelo MPLA, dê sinais positivos. Nós estamos abertos para o diálogo e estamos prontos para a paz.
DW África: Em março, o líder da Frente para a Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) recebeu um convite da Presidência angolana para se deslocar a Luanda e falar dos problemas que afetam a região. Não encara isso como um sinal de abertura a negociações?
GFN: São sinais que, muitas vezes, não mostram boa vontade. É simplesmente para ludibriar a opinião pública internacional, dizendo que o Governo angolano está interessado no diálogo. O que a gente vê mais no terreno são elementos da Defesa e Segurança a torturar a população, a perseguir as populações e os ativistas políticos. Mas se ele estiver engajado devidamente para um diálogo sério, todos nós estamos prontos para irmos à mesa de negociações. Têm que nos enviar políticos idóneos.
DW África: Recomendaram que empresas estrangeiras deixem o território de Cabinda. Significa que as operações militares não ficarão por aqui?
GFN: Nós estamos preparados para o combate e vamos continuar. Todas aquelas empresas serão ameaçadas, porque o momento já não é de brincadeira. A população de Cabinda está a sofrer. Outros estão a beneficiar daquilo que o povo de Cabinda deveria beneficiar.
DW África: São esperadas eleições gerais em agosto e a FLEC-FAC já afirmou que pretende desestabilizar o processo…
GFN: Não vamos deixar que este ano se realizem eleições em Cabinda. É uma provocação, porque um escravo não pode votar num chefe. Nós somos escravos dos angolanos. Não estamos na altura de irmos às mesas de voto dos angolanos. Os angolanos que votem entre eles. Nós não. Repito: Os cabindas não vão ao voto. O braço armado está disposto a boicotar as eleições angolanas em Cabinda.
DW África: Quando afirmam que as assembleias de voto serão o centro de atenções das FAC, isso é uma ameaça?
GFN: Não estamos a ameaçar, é uma realidade. Vai-se concretizar. Não estamos para ameaçar ninguém, mas vamos fazer isto. Vamos concretizar, falamos e temos de concretizar.