O Governo anunciou que vai hoje pôr em marcha a operacionalização da Reserva Estratégica Alimentar (REA), com o objectivo de “garantir a aquisição, armazenamento e distribuição de mais de 520.000 toneladas de produtos alimentares”.
A gestão da REA foi entregue à Gescesta, empresa que pertence, em partes iguais, aos grupos Carrinho e GemCorp.
Segundo uma nota do Ministério da Indústria e Comércio (MINDCOM), a Reserva Estratégica Alimentar é uma iniciativa do Executivo criada com o objectivo de regular o mercado e influenciar a baixa de produtos alimentares que integram a cesta básica.
A gestão da Reserva Estratégica Alimentar foi entregue à Gescesta, empresa criada em Outubro deste ano, com um capital social de 100 mil kwanzas, distribuídos por duas quotas iguais, divididas pela Gemcorp e pela Tools and Foodservice, Lda, que tem por trás o grupo Carrinho.
O programa do Governo gerido pela Gescesta “irá garantir a aquisição, armazenamento e distribuição de mais de 520 mil toneladas de produtos alimentares, parte deles já produzidos e transformados localmente, prevendo-se um impacto na redução dos preços em até 5% para o consumidor final”, lê-se na nota do MINDCOM, que informa que numa primeira fase, serão colocados no mercado até 354 mil toneladas de alimentos – açúcar (sacos de 50 Kg), arroz (sacos de 25 Kg), e coxas de frango (caixas de 10 Kg), aumentando progressivamente até chegar às 520 mil toneladas”.
Durante as próximas semanas, garante o MINDCOM, “começam a ser distribuídos os restantes nove produtos dos 11 que integram a gestão da REA”.
A Gemcorp tem negócios com o Governo angolano desde 2015. Até ao final de 2018, com Archer Mangueira como ministro das Finanças e Valter Filipe como governador no BNA, a Gemcorp assinou com Angola – MinFin e BNA – acordos de financiamento na ordem dos 5 mil milhões de dólares. Foi também nesta altura que se tornou o maior gestor de activos externos do BNA, ao mesmo tempo que era também um dos maiores credores do banco central angolano.
Muitos dos seus negócios no País foram ruinosos para o Estado, conforme pode ler aqui, aqui e aqui, em reportagens que demonstram que parte destes financiamentos foi utilizada para a importação de bens alimentares e medicamentos, sendo a Gemcorp, através dos vários tipos de empresas que possui, simultaneamente gestora, intermediária, mutuante, trader e importadora.
Esta holding com sede em Malta, um dos principais paraísos fiscais da União Europeia, está também ligada, por exemplo, à refinaria de Cabinda, projecto avaliado em 920 milhões de dólares, sendo a GemCorp simultaneamente financiadora e proprietária. O projecto obteve a aprovação de vários benefícios fiscais (ler aqui, aqui e aqui) e está a ser construído pela Odebrecht, que também regressou em força ao País.