Figuras históricas do MPLA, no poder em Angola, hoje homenageadas no VIII congresso da organização política, garantiram que o partido está coeso e desvalorizaram a ausência do ex-presidente da República José Eduardo dos Santos na reunião magna.
Um grupo de 12 militantes históricos do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), entre os quais Roberto de Almeida, França Ndalu e Paulo Julião Mateus “Dino Matrosse”, foram homenageados com a medalha de Militante de Vanguarda, pela contribuição que deram ao partido ao longo de décadas.
O congresso, que hoje arrancou sob o lema “MPLA – Por uma Angola mais Desenvolvida, Democrática e Inclusiva” e termina no sábado, com a eleição do novo presidente do partido – lugar para o qual concorre apenas o candidato João Lourenço – fica marcado pelo rejuvenescimento do seu Comité Central, com uma proposta de 35% de jovens, com idades entre 18 e 35 anos.
Em declarações à agência Lusa, Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, antigo secretário-geral do MPLA, disse que depois de décadas de entrega à luta de libertação nacional pelo MPLA e permanência no Comité Central desde 1977, chegou o tempo de “deixar os lugares aos mais novos”.
Dino Matrosse sublinhou que vai continuar a contribuir voltando às bases e prestando o seu apoio sempre que o partido e outras instituições acharem necessário.
Aos jovens que agora vão integrar o Comité Central, o veterano recomendou que sigam o exemplo dos antecessores, dos que lutaram para a independência nacional.
Questionado sobre o nível de coesão no partido, Dino Matrosse disse que tem ouvido que “o partido anda desunido”, admitindo que “pode haver um ou outro descontente, é normal”.
“Mesmo nas nossas casas, sete ou oito irmãos, às vezes há também problemas em casa, o que é importante é haver discernimento” a fim de encontrar soluções para algumas coisas “que não estão a correr muito bem”, frisou.
Instado a comentar a ausência e o facto de não ter sido feita qualquer homenagem ao anterior líder do partido e presidente emérito do MPLA, José Eduardo dos Santos, o histórico minimizou, argumentando o facto de se encontrar doente e em tratamento, concordando que seria importante a sua presença.
“Não posso responder pelo presidente. Sim, seria [importante a presença], continua com o carisma que tem no seio do partido e fora do partido, ele continua com carisma. O que nós queremos desejar a ele é muita saúde, que esteja connosco por muito e muito tempo”, disse.
Por sua vez, França Ndalu, deputado à Assembleia Nacional e ex-membro do Bureau Político do MPLA, pediu aos jovens que estão a entrar para um partido histórico, que governa Angola desde o início da independência e lutou para a libertação do país, que deem continuidade a todo o trabalho e sacrifício feitos durante este tempo.
“É a juventude que entra e que também terão de fazer o trabalho que já foi feito, além de um novo trabalho que vai aparecer. Por isso é que aos jovens só recomendo que tenham muita vontade de trabalhar, que estudem – necessitam de aprender-, que tenham conhecimento de toda a história do MPLA para poderem desenvolver o seu trabalho”, salientou.
Sobre a coesão do partido, considerou que o MPLA se mantém unido e, apesar de poder haver diferenças de opinião, “continua coeso e pronto a continuar a ser um partido vencedor”.
Relativamente à ausência de José Eduardo dos Santos deste congresso, França Ndalu disse não estar a par das razões, afirmando que o antigo líder “vai ser sempre importante, não só neste congresso, mas importante para o país”.
“Ele foi o nosso segundo Presidente da República, foi o presidente do partido durante muitos anos, que se sacrificou e que também foi um presidente que governou nos momentos muito difíceis do nosso país, durante a guerra e é sempre um emérito no nosso país, portanto, sempre respeitado e querido pelo nosso povo”, realçou.
Já Roberto de Almeida, antigo vice-presidente do MPLA, manifestou orgulho por durante décadas ter feito parte da estrutura do Comité Central, completando esta sexta-feira 44 anos como membro.
“É com maior satisfação que saio e essa satisfação é ainda maior porque há um reconhecimento da parte do partido, da contribuição que eu dei e penso que não foi uma contribuição totalmente satisfatória, também tive falhas, também errei várias vezes, mas é importante que consiga chegar ao termo depois de 44 anos e passar o meu testemunho à nova geração”, disse.
Roberto de Almeida disse esperar que os jovens que entram agora “consigam manter o MPLA como um partido que dirige a nação angolana, um partido que está na vanguarda e consegue abrir o caminho, tomar as iniciativas para conduzir o povo angolano aos melhores destinos”.
Para si, a moldura humana evidenciada neste congresso demonstra a união no seio do partido, olhando com naturalidade para a ausência do presidente emérito do MPLA no conclave.
“Olho isso com naturalidade, como um militante que fez uma opção. Escolheu não participar no congresso, é seu direito, os militantes no seio do MPLA não deixam de ter vontade própria, e de acordo com a situação particular que o presidente José Eduardo dos Santos está a viver neste momento creio que é de sua própria vontade não participar neste congresso, o que não quer dizer que deixa de ser militante do MPLA”, sublinhou.