Vários partidos acusam o MPLA, o partido no poder em Angola, de ser o mentor da intolerância política que se vive na província do Cuando Cubango. Estão preocupados com a situação que resultou em vários detidos e feridos.
A nove meses de 2022, o ano previsto para a realização das eleições gerais em Angola, a situação de intolerância política ganha novos contornos. Neste ano pré-eleitoral, os conflitos entre os vários partidos na oposição e o MPLA, no poder, são constantes no Cuando Cubango, como afirmam vários agentes políticos da província.
“A intolerância política é um facto aqui na nossa província”, diz Samuel Messene. Segundo o secretário provincial do Partido de Renovação Social (PRS), a situação é tão gritante que inclusive as queixas apresentadas às autoridades não têm pernas para andar e “por vezes não há respostas”.
“Esta intolerância política prende-se também com a maneira como os sobas são usados. Um soba é apartidário e recebe alguma coisa do governo [salário], mas são os sobas que ameaçam principalmente os nossos militantes para não aderirem ao partido A ou B”, conta.
“Só existe um único partido, o MPLA”
Para o secretário provincial da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), Bernardo Kukumesso, o nível de intolerância política é tão visível ao ponto de existir resistência na instalação da sede do partido no município do Cuito Cuanavale.
“Dentro da nossa província, mais concretamente no município do Cuíto Cuanavale, só existe um único partido, que é o MPLA, outros partidos não têm direito de instalar suas sedes, o MPLA não deixa espaços nem lugares para a instalação dos outros partidos”, afirma.
O secretário provincial da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e deputado do maior partido da oposição angolana, Francisco Gaio Kakoma, concorda que a situação é problemática.
“Do ponto de vista político temos muitos problemas aqui na nossa província, porque não é possível dos 164 municípios que o nosso país tem só temos dois municípios em que a UNITA não está implantada [sem instalações fixas].O problema está mesmo no MPLA”, sublinha.
Sobas com medo
O deputado do maior partido da oposição angolana refere também as perseguições de que são alvo os sobas que participaram na atividade mais recente da UNITA, no final de fevereiro. “Quando tomamos posse, pedimos que os sobas viessem no sentido de assistirem também para nos conhecermos. Infelizmente depois destas atividades começaram a surgir problemas de perseguição aos soberanos”, diz Kakoma.
Segundo o deputado, “uma comissão de disciplina e auditoria [do MPLA] está a notificar os sobas.” Por isso, pergunta: “O soba é do MPLA ou é de todos?” Algo que preocupa a UNITA “é que quase todos os sobas a viver aqui estão com medo”, acrescenta Francisco Gaio Kakoma.
Poucos dias depois do evento, o secretário do soberano Mwene Mbingo Mbingo convocou uma conferência de imprensa para esclarecer a presença dos sobas do Cuíto Cuanavale na atividade da UNITA. “Eu não sou da UNITA e nunca fui da UNITA. O partido da UNITA não pode ir lá no Cuíto”, declarou na altura.
Perante as acusações, a DW África contactou a direção do MPLA, mas não conseguiu obter uma reação do partido no poder até ao fecho desta reportagem. A DW também tentou, sem sucesso, ouvir a Procuradoria na província para saber como andam os processos sobre conflitos resultantes de intolerância política.
Fontes ouvidas pela DW asseguram que a situação de intolerância política não se verifica apenas no Cuando Cubango, mas também nas províncias do Zaire, Cunene, Lunda Norte e Huíla.