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“Angola investiu no sistema curativo para justificar gastos inconfessos de milhões de dólares” — Sindicato dos Médicos de Angola (SINMEA)

O Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA) consideraram hoje que o Governo angolano fez um grande investimento no sistema curativo e não apostou, nos últimos cinco anos, num verdadeiro sistema de saúde, como forma de justificar “gastos inconfessos” de milhões de dólares.

Este posicionamento do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA) consta da sua “visão sobre o estado da saúde em Angola”, apresentada hoje em conferência de imprensa, em que deploraram a “não aposta” no sistema de saúde primário.

Segundo a direção cessante do Sinmea, nos últimos cinco anos, o Governo angolano efetuou um grande investimento no sistema curativo ‘versus’ sistema de saúde secundário e terciário, “invertendo a pirâmide da organização de um verdadeiro sistema de saúde”.

“O que no nosso entender, provavelmente, é uma forma de justificar gastos de milhões de dólares inconfessos”, lê-se no comunicado apresentado pelo presidente do sindicato, Adriano Manuel.

Em relação aos recursos humanos, e apesar dos concursos públicos, estes “estão muito aquém das necessidades do país”, observou o sindicato.

O Sinmea, que cessou o seu mandato de cinco anos em 27 de janeiro passado e realiza em março próximo um congresso de renovação de mandato, recordou os dois cadernos reivindicativos remetidos às autoridades, “mas que não tiverem qualquer respaldo”.

O “elevado” índice de mortalidade em Angola, o elevado número de médicos desempregados formados em Angola e no exterior, o défice de recursos humanos, o “péssimo” salário dos médicos angolanos e a garantia de melhor assistência no sistema primário de saúde constam dos cadernos reivindicativos.

A melhoria do funcionamento das equipas de vigilância epidemiológica para o combate às doenças negligenciadas, a disponibilização de medicamentos essenciais e de equipamentos para atendimento ao doente crítico figuram também das reivindicações dos médicos angolanos nos últimos cinco anos.

Lamentam a falta de respostas às suas preocupações, apresentadas ao Presidente da República, aos deputados e à vice-presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, que, no seu entender, se configura em “falta de consideração ao Sinmea”.

“Constitui uma falta de consideração a uma instituição que só quer ajudar o Governo, em particular, e o país, no geral, na resolução dos problemas da saúde em Angola”, assinalou Adriano Manuel.

“Concluímos que o Governo de Angola encara o sindicato dos médicos como um inimigo visceral e um alvo a abater, quando devia tê-lo como verdadeiro aliado para o crescimento e desenvolvimento do país”, refere-se no comunicado.

Esses profissionais da saúde em Angola disseram também não observar melhorias a nível do sistema de saúde primário, persistindo, por isso, “um elevado índice de mortalidade maternoinfantil, tudo porque ao nível primário não existe quase nada”.

O Sinmea denunciou igualmente que jovens de 18 anos estarão a ser alvo de histerectomia (remoção cirúrgica do útero), “retirando-lhes a possibilidade de terem filhos, por causa de um sistema de saúde que não funciona”.

A construção de novos hospitais com equipamentos de ponta, referem, não são acompanhados com a formação de quadros para manusear os respetivos equipamentos.

O sindicato dos médicos angolanos, que suspendeu a última greve em abril de 2022, lamentou ainda a inexistência de médicos especialistas em endocrinologia, gastro, neurocirurgia, psiquiatria, cardiologia, hematologia e outras em várias províncias do país.

A vinda de médicos expatriados “constitui uma verdadeira máfia, já que muito deles não reúnem habilidades e muitos nem sequer são especialistas”, apontam.

Os médicos angolanos, que “continuam a auferir péssimos salários e submetidos a uma escravatura institucionalizada imposta pelo Governo”, concluem que “não existe nenhum comprometimento do Governo na resolução dos problemas da saúde da população”.

O Sinmea realiza nos dias 24 e 25 de março próximo, em Luanda, o seu segundo congresso para a renovação de mandato dos seus corpos sociais, com o presidente cessante, Adriano Manuel, a admitir recandidatar-se ao cargo.

 

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