O líder da UNITA, maior partido da oposição, apelou hoje aos angolanos para aproveitarem os 20 anos de paz, que se comemoram em 04 de abril, para reforçar e recuperar o diálogo institucional “que praticamente não existe”.
Adalberto Costa Júnior fez esta declaração no final de um encontro da plataforma política Frente Patriótica Unida (FPU), realizado hoje, em Luanda, que integra os partidos União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Bloco Democrático, e Abel Chivukuvuku, promotor do projeto político PRA-JA Servir Angola.
O dirigente da UNITA, instado pela Lusa a comentar o fim do conflito armado angolano, alcançado em 04 de abril de 2002, considerou que “20 anos [de paz] não é pouco tempo”.
Segundo Adalberto Costa Júnior, este período permite a realização de um tempo de paz, mas “Angola tem este ónus negativo”.
“Não pode continuar a falar da guerra, do ódio, para justificar a não realização dos grandes atos de hoje, particularmente, quando tivemos uma acumulação extraordinária de disponibilidades financeiras e quando temos de novo um ‘boom’ do petróleo, a trazer recursos extraordinários, que deveriam ensinar ao nosso Governo que estes excessos, estas disponibilidades, deviam ir para as reservas estratégicas para prevenir o futuro e para serem direcionadas aos angolanos, para a melhoria da vida dos angolanos”, frisou.
O líder da UNITA reiterou que 20 anos “são bastante tempo”, lembrando que o seu partido é parte integrante deste processo de paz.
“Nós trabalhamos todos os dias para que esta paz tivesse vindo definitivamente para ficar, para o aprofundamento das suas condições”, referiu.
De acordo com Adalberto Costa Júnior, a paz tinha várias vertentes, nomeadamente a paz militar, civil, social, “aquela que transfere para as famílias angolanas a estabilidade e a dignidade das suas vidas e, infelizmente, os 20 anos não trouxeram estas realidades todas”.
“Trouxeram, felizmente, o não retorno à guerra e este é um dado mais do que adquirido, mas precisamos de adquirir o complemento”, sublinhou.
A data comemora-se em ano de eleições, “onde muito visivelmente”, comentou Adalberto Costa Júnior, querem atirar ao partido “o estigma da violência”.
“E servimo-nos exatamente destas oportunidades para apelar a todos, no sentido de não se distraírem, meter o pé sobre estas cascas de banana. Nós temos que dizer não à violência, sim à paz, sim ao diálogo, ao aprofundamento de uma democracia plural e, portanto, cada um de nós não deve responder, sentir-se no direito de, mesmo atacado, responder, quando as instituições nos dizem que estão à espera exatamente destes maus comportamentos”, disse.
Recentemente, um incidente, com atos de agressão, envolveu as duas maiores forças políticas angolanas, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, e a UNITA, no município de Sanza Pombo, província do Uíje, tendo resultado em vários feridos e detidos, na sequência de atividades políticas realizadas por ambos, na mesma altura.
Angola viveu décadas de conflito armado, opondo o Governo de Angola e a UNITA, tendo a guerra terminado com a morte em combate do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi, em 22 de fevereiro de 2002, e o acordo de paz assinado em 04 de abril do mesmo ano.