O líder espiritual da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola, bispo Alberto Segunda, disse hoje, em Luanda, que há sinais de aproximação de bispos e pastores dissidentes da organização religiosa, reiterando abertura ao diálogo.
Em declarações à agência Lusa, o bispo, eleito em maio de 2021, como o novo líder espiritual e presbítero geral da IURD em Angola, em substituição do bispo brasileiro Honorilton Gonçalves, disse acreditar que está para breve a abertura dos templos, com o aproximar do fim do julgamento.
O tribunal provincial de Luanda está a julgar desde o dia 18 de novembro dois bispos e dois pastores brasileiros e angolanos, os coarguidos Honorilton Gonçalves, António Miguel Ferraz, Belo Kifua Miguel e Fernandes Henriques Teixeira, acusados dos crimes de associação criminosa, branqueamento de capitais, burla por defraudação e violência doméstica, na sequência de conflitos internos que levaram à divisão da IURD em Angola.
“Afirmamos que está para breve, não que tenha uma data da reabertura das igrejas, mas daquilo que é o processo, entendemos que as autoridades brevemente tomarão decisões em relação a abertura dos templos”, referiu o bispo.
O julgamento está na sua fase final, devendo realizar-se as alegações finais no próximo dia 17 deste mês, para a seguir ser ditada a sentença.
“Cremos que, dentro daquilo que será a decisão do tribunal, o próximo passo será o desbloqueio dos templos”, frisou, acreditando que “uma vez que não se provou nada até agora”, os arguidos serão absolvidos.
Questionado se houve já algum encontro com a parte desavinda, o líder espiritual da IURD Angola respondeu que não, apesar de haver “sinais de que eles pretendem conversar”.
“Estamos à espera, sempre estivemos abertos, desde que eles venham para dialogar, conversar e mostrarem os seus pontos de vista, a IURD não está com as portas fechadas, então estamos abertos”, afirmou.
“Ainda não houve diálogo, mas tão breve eles decidam voltar — porque eles é que saíram, não somos nós que saímos — e estejam alinhados dentro daquilo que se chama reconciliação, estamos abertos, desde que eles venham e procurem dialogar connosco”, acrescentou.
Instado a apontar que sinais de interesse têm encontrado na outra IURD Angola, Alberto Segunda avançou que a convicção parte do que têm observado nas redes sociais, com a narrativa de reconciliação de alguns dissidentes.
“Cremos que há sinais, mas não basta falar, é necessário que se tome atitudes. Muitos obreiros, que anteriormente seguiram os dissidentes, voltaram, muitos estão voltando, isso é um sinal também que nos mostra que há essa abertura de eles quererem dialogar”, frisou.
O bispo disse que a igreja continua a enfrentar dificuldades devido ao encerramento dos templos, o que tem penalizado os 500 mil fiéis da IURD espalhados por Angola.
“A grande dificuldade é que não podemos acomodar os nossos fiéis, temos 500 mil membros sem ter os seus templos à disposição para poder praticar o culto, isso é um grande constrangimento, os membros entre si são obrigados a arranjarem quintais, casas, para os pastores se deslocarem e fazerem orações, sendo que eles têm os seus templos, isso cria um grande constrangimento”, lamentou.
O bloqueio das contas bancárias, apontou o bispo, tem sido igualmente outra dificuldade para a igreja, lembrando que funcionários daquela organização religiosa com origem no Brasil, criada pelo bispo Edir Macedo, estão sem os seus salários.
“A igreja não se limita apenas àquilo que é o trabalho espiritual, tem o trabalho social e tem outros serviços de apoio. Nós temos funcionários e não podemos reenquadrá-los, porque não temos condições de poder pagar os seus salários e isso também é um outro constrangimento. Não podemos porque as contas estão bloqueadas”, expressou.
Em causa está um conflito interno, iniciado em novembro de 2019, quando um grupo de mais de 300 pastores angolanos da IURD subscreveram um manifesto, em que se recusavam a fazer parte da igreja com uma direção brasileira, originando a separação da organização religiosa em duas partes, conhecidas como a ala angolana e a ala brasileira.
Naquele manifesto, “a direção brasileira era acusada de atos de racismo, evasão de divisas e procedimento obrigatório de vasectomia, todas negadas por eles, que acusavam os dissidentes angolanos de atos de xenofobia e violência”.
Na sequência das acusações mútuas, a justiça angolana abriu um processo e ordenou o encerramento dos templos e o bloqueio de contas bancárias, tendo ainda sido convidados a abandonar o território angolano bispos e pastores brasileiros.
Em 2020, o INAR legitimou o bispo Valente Bezerra Luís (ala reformista) como representante da IURD em Angola e em fevereiro de 2021, o mesmo foi eleito em assembleia-geral líder da IURD Angola, pondo fim à comissão de reforma.
Esta direção é considerada ilegítima pela direção do bispo Alberto Segunda, eleito em maio de 2021 como novo líder espiritual e presbítero geral da IURD em Angola, em substituição do bispo brasileiro Honorilton Gonçalves.