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Angola/Luanda: O drama das famílias do “Povoado”

No chamado “bairro do Povoado”, em Luanda, vivem mais de 50 famílias vítimas de desalojamentos forçados. Sem água, luz e, muitas vezes, sem alimentação, os residentes pedem a intervenção do Presidente João Lourenço.

Maria Emaculada é uma das moradoras do “Povoado”, uma pequena zona, no Zango III, em Luanda. É constituído por casas inacabadas onde as vítimas dos desalojamentos forçados montaram as suas tendas enquanto aguardam pelo reassentamento.

Emaculada vive no local com cinco filhos, há três anos. Dois já nasceram na zona. Esta quarta-feira (06.10), convidou a DW África a testemunhar as péssimas condições em que habita.

O quintal improvisado é feito de chapas. Logo à entrada está a sua cozinha, sem fogão. Há apenas pequenos pedaços de madeira para o fogo que acende entre três pedras que suportam a panela, quando há comida.

“Cozinho aqui na lenha. Tenho que mandar procurar lenha para cozinhar. É muita dificuldade, meu irmão”, conta. Há dias em que a fogueira não acende. Foi o caso na véspera: “Ontem não jantámos, infelizmente. Mas há uma vizinha ali ao lado que trouxe banana que eu dei aos meus filhos para comer e eu não comi”. Para ela e os filhos comerem, Emaculada faz biscates, quando há.

No interior do pequeno quarto um mosquiteiro protege a filha mais nova que dorme. A vida não é fácil no “Povoado”, comenta. “Onde tiramos água é lá na vala. Tem uma vala onde um tubo partiu, é muito trabalho”.

“Aqui cada um se vira nos trinta”

Trabalho na zona também não há. As mais de 50 famílias estão desempregadas. Nos arredores abunda o lixo, não há assistência médica, defeca-se em sacos de plástico e as doenças são várias, revela Domingos Baptista, um dos desalojados: “Aqui não tem nada, não temos condições. Nós vivemos mal mesmo. Aqui cada um se vira nos trinta”.

Em 2018, o Governo realojou mais de 100 famílias da chamada “Ilha Seca”, no Zango IV, em Viana. Muitos queixam-se de ter recebido uma casa para duas famílias.

Para os cidadãos do “Povoado” ficaram apenas as promessas de realojamento, explica Domingos: “Eles prometeram que viriam para continuar com o processo. Até hoje, nada. Nós estamos há três anos na rua”.

Apelo ao Presidente e à primeira-dama

As famílias enviaram cartas ao governo provincial, à administração municipal de Viana e ao Distrito Urbano do Zango. No entanto, “cada dia que estão para dar as casas trocam de administração e os administradores em vez de dar as casas à população que merece estão a dar às famílias”, diz Domingos.

Mas a esperança mantém-se. Domingos Baptista acredita que, com o advento das eleições de 2022, o problema será resolvido. “Isso tem que ser resolvido antes das eleições, porque, se passar, esquecem. Eles querem votos e aqui vivem militantes”, avisa.

A DW tentou o contacto com o governo provincial de Luanda e com a administração municipal de Viana, sem sucesso. Mas sabe que o Governo acusa alguns populares de oportunismo. Ou seja, pessoas que já receberam residências voltam novamente às zonas onde já foram cadastradas.

Catarina João Francisca, coordenadora do “Povoado”, refuta as acusações e diz: “Estou a apelar ao Presidente da República e [à sua mulher] Ana Dias Lourenço, ela é mãe, que vele por essa situação. Ana Dias Lourenço pode vir aqui normalmente. Pode vir aqui conversar com o povo”.

 

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