Os elevados preços dos produtos estão a afugentar clientes no Mercado do 30, em Luanda, enquanto os vendedores, que veem os seus rendimentos reduzidos a metade, se queixam da fraca procura e pedem intervenção das autoridades.
Vendedores daquele mercado abastecedor, sobretudo de produtos agrícolas, no município angolano de Viana, em Luanda, queixam-se que diminuiu pela metade a procura dos bens que comercializam e proporcionalmente os seus lucros caíram.
Uma diversidade de produtos, desde bens da cesta básica, verduras, frutas, peixe, carne abatida e outros, são comercializados no Mercado do 30, a 30 quilómetros de Luanda, mas os atuais preços praticados travam a adesão de compradores.
Para Lintánia Bula, vendedora de frutas, a covid-19 tem implicações diretas nos atuais preços praticados no mercado. A comerciante descreveu que os seus lucros caíram de até 70.000 kwanzas/dia (105 euros) para 5.000 kwanzas (7,5 euros) atualmente.
Há cinco anos no Mercado do 30, Lintánia, de 25 anos, diz-se “agastada” com o atual rendimento, que se restringe apenas em comprar o essencial para os filhos em casa, porque atualmente “as coisas estão difíceis, comércio já não é rentável e nem se faz poupança”.
“Principalmente para nós que vendemos fruta, porque quanto ela mais demora, mais apodrece e mais perda de dinheiro se tem, por isso não está fácil”, lamentou.
Constantina Juvala tem na venda de repolhos o seu “ganha-pão”, um exercício que dura há três anos, mas nos dois últimos anos, diz, tem enfrentado diversas dificuldades para se sustentar e aos filhos, pelo mesmo motivo: os elevados preços dos produtos e a consequente baixa procura.
Um repolho naquele mercado está a ser comercializado entre 400 kwanzas (0,6 euros) e 500 kwanzas (0,7 euros), mas diz contar aos dedos o número de clientes que compram diariamente e, quando aparecem, “ainda reclamam para baixar o preço”.
“E assim é complicado, e por dia podemos levar 2.000 kwanzas [3 euros] de lucro”, atirou.
O preço elevado de um quilograma de arroz, de fuba e de feijão foi apontado com preocupação por Faustina Alberto Quintas, que no Mercado do 30 vende utensílios plásticos, cujos preços também aumentaram consideravelmente.
A vendedora confirma a reduzida procura dos produtos: “As coisas estão muito caras e muitos clientes reduziram as despesas para conseguirem apenas o essencial”.
“E a vida está mesmo mal, por dia estamos a conseguir pouco mesmo, e não estamos a levar nada para casa”, desabafou a vendedora de 32 anos.
Uma entre os clientes que aderem ao Mercado do 30 em busca de produtos para o consumo ou para a revenda, Júlia Diogo, vendedora de gelados em casa, que afirma que apenas alguns produtos do campo ainda têm preços “acessíveis”.
Acompanhada por um jovem, que transportava num carrinho de mão os produtos que adquiriu, entre sacos de múcua, tomates e outros, Júlia Diogo contou à Lusa que gastou 36.000 kwanzas (54 euros), confirmando igualmente os “preços puxados” do arroz, óleo, frango e peixe
“Ao revender compensa sim, estou sempre aqui no [mercado do] 30, mas os preços dispararam muito nesse período da covid-19. Por exemplo, nos armazéns o saco de arroz teria de chegar até pelo menos 5.000 kwanzas [7,5 euros] porque as pessoas não ganham quase nada”, realçou.
O Governo angolano desenvolve várias ações para reduzir o preço dos bens da cesta básica, nomeadamente a isenção de impostos em alguns produtos e a redução do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) de 14% para 7%.
Lintánia Bula referiu ainda que as medidas do Governo “não têm qualquer impacto” nos preços praticados atualmente no Mercado do 30, pedindo às autoridades para “alterarem o rumo da situação com medidas efetivas que melhorem a condição de vida”.
“Por isso pedimos ajuda ao Governo para reduzir o preço das coisas e assim vamos conseguir sobreviver e poder saber cuidar dos nossos filhos”, rematou a vendedora de frutas.