Mais de 100 casos de suicídio são registados mensalmente no país, resultante dos problemas familiares, que acabam em depressão e ansiedade, declarou o bastonário da Ordem dos Psicólogos de Angola (OPA), que considera ser um número preocupante.
Em declarações ao Jornal de Angola, a propósito do número elevado de psicopatas que proliferam em Luanda, Carlinhos Zassala disse que os Centro de Aconselhamento Psicológico não têm a missão de tratar pessoas com perturbações mentais, mas sim de acolher aqueles que apresentam problemas no seio familiar, estado de depressão ou de ansiedade.
O psicólogo reprova a ideia de as pessoas apenas procurarem um especialista na área, quando já têm problemas e, por isso, defende a cultura de se fazer um chek up (revisão geral) mental, pelo menos, uma vez por ano.Carlinhos Zassala disse, por outro lado, que, apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter definido a saúde como bem estar físico, mental e espiritual, o Estado angolano dá primazia ao bem estar físico, relegando o bem estar mental e espiritual para o segundo plano.
O bastonário da OPA revelou que, ao longo dos anos de Independência, o país praticamente não construiu hospitais psiquiátricos, limitou-se a ampliar os que já existiam. Neste contexto, frisou, cabe ao Ministério da Saúde propor uma política de recuperação das pessoas que sofrem de doenças mentais graves, como os psicóticos, para que não incomodem os transeuntes com atitudes agressivas.Zassala, que também é docente universitário na Universidade Agostinho Neto, aconselha o Ministério da Saúde, por intermédio da Direcção Nacional de Saúde e a Ordem dos Médicos, no sentido de encaminharem estes indivíduos para os centros apropriados, a fim de não prejudicarem os demais cidadãos.
Questionado sobre as causas do elevado número de dementes nas ruas da cidade de Luanda, o responsável disse serem vários, tendo apontado o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, drogas lícitas e ilícitas.As drogas lícitas são as bebidas alcoólicas, as ilícitas a cocaína, liamba e a marijuana que, consumidas em demasia, provocam problemas nas mentes das pessoas.Entre outras, apontou, também, os casos de muitos cidadãos que são enganados por algumas confissões religiosas, como uma das razões que levam à loucura.
Para o bastonário, a proliferação de igrejas é um fenómeno que está a perigar a saúde mental e a paz social, resultando no elevado número de suicídios no país.”Há muitas confissões religiosas que prometem prosperidade aos associados como, por exemplo, encontrar um bom marido, boa mulher, casa e emprego. Atraído por estes, a pessoa entra numa confissão religiosa e os pastores aplicam as técnicas do animal predador”, revelou.
As pessoas entram para uma determinada confissão religiosa para encontrar solução e o pastor aproveita-se disso, avançando razões para poder isolar o elemento da sua família.”Quantas vezes vimos igrejas a destruir famílias. Muitos, inclusive, acusam o progenitor de prática de feitiçaria. Trata-se de uma táctica para poder isolar a pessoa e depois se tornar dono da consciência do cidadão”, precisou. Carlinhos Zassala explicou que quando uma pessoa nota que é vítima e instrumentalizada pelo suposto ministro de Deus, durante longos anos, entra num conflito interno, depois de ter comprometido os vínculos familiares, alegadamente por questões infundadas de feitiçaria.
Por isso, o bastonário aconselha a sociedade angolana a trabalhar com os psicólogos, porque não há cientistas no mundo capazes de penetrar na mente humana, que não sejam estes especialistas, por terem o domínio da consciência da pessoa.Sobre as psicopatologias, Carlinhos Zassala aponta dois tipos de psicóticos: os que perderam o sentido de relacionamento com os outros, os chamados doentes mentais, e os que pululam nas ruas. A outra classe de psicóticos tem a ver com os neuróticos, que sofrem de uma doença mental parcial. Segundo o psicólogo, uma pessoa que não consegue controlar os seus impulsos sexuais diante de uma mulher é, igualmente, um doente mental. Existe ainda uma outra classe de doentes mentais, designada por mitomania, que consiste no impulso mórbido de mentir.
Ordem sem instalações
A Ordem dos Psicólogos de Angola foi instituída em 2010 e controla, em todo o país, 1853 associados. Está sedeada em regiões, nomeadamente Luanda, Uíge (Norte), Benguela (Centro), Lubango (Sul), Cabinda e Moxico (Leste). Nestes locais, a instituição é representada por um presidente.Carlinhos Zassala lamenta o facto de a OPA, que a 7 de Dezembro completa 10 anos, não possuir estatutos publicados no Diário da República.