O membro da comissão organizadora do V congresso ordinário da FNLA, Miguel Pinto, afirmou, ontem, em Luanda, que o actual líder desta força política, Lucas Ngonda, “está proibido” de concorrer à sua própria sucessão no conclave de Agosto
O membro da comissão organizadora do V congresso ordinário da FNLA, Miguel Pinto, afirmou, ontem, em Luanda, que o actual líder desta força política, Lucas Ngonda, “está proibido” de concorrer à sua própria sucessão no conclave de Agosto.
Em entrevista exclusiva a O PAÍS, na véspera da conferência de imprensa, a ter lugar nesta Quarta-feira,14, no distrito urbano do Golfe 2, em Luanda, que vai falar sobre os preparativos do aludido congresso, Miguel Pinto justificou que Lucas Ngonda assinou um documento de 14 pontos em que assumiu não se recandidatar para mais um mandato, para o bem do processo de reconciliação interna.
O documento, denominado “Pacto de Unidade, Reconciliação e Coesão Interna do Partido”, foi assinado com os próprios punhos de Lucas Ngonda no dia 25 de Outubro de 2019, com outros grupos desavindos (G-6), coordenado por João Fernando Nascimento e por Carlito Roberto, filho de Holden Roberto, líder-fundador da FNLA.
O pacto, assinado sem a presença do grupo do histórico e veterano Ngola Kabangu, e de Fernando Pedro Gomes, numa das suas cláusulas, estabelecia a realização de um congresso não electivo em Novembro daquele ano e, seguidamente, Lucas Ngonda abandonaria a direcção do partido, continuando apenas como militante.
Segundo o documento a que O PAÍS teve acesso, o elenco a sair daquele congresso seria constituído por 221 membros do Comité Central, e 51 membros do Bureau Político, e teria a missão de preparar o próximo congresso ordinário, no caso o V.
Em obediência ao entendimento alcançado há quase dois anos, o conclave estava inicialmente previsto entre os dias 16, 17, 18 e 19 de Junho do ano em curso, mas foi para os dias 16, 17 e 18 de Agosto.
O adiamento deveu-se em obediência a uma decisão do Tribunal Constitucional (TC), decorrente de uma acção de impugnação, apresentada pelo militante Daniel António Afonso, que pediu que fossem considerados nulos todos os actos praticados pela direcção da FNLA desde 16 de Fevereiro de 2019. Ngonda deve honrar palavra Miguel Pinto, que é também membro do Grupo dos seis, conhecido genericamente por(G6), reafirmou que, apesar de os estatutos do partido não limitarem o mandato dos presidentes, a recandidatura de Lucas Ngonda, para mais um mandato à frente desta força política, não será aceite, pelo que deverá honrar o que ele próprio assinou no pacto.
Sem rodeios, como em outras entrevistas à imprensa nacional e internacional, Miguel Pinto voltou a apontar o dedo acusador a Lucas Ngonda como sendo o principal “empecilho” do processo de reconciliação interna, que remonta a 22 anos, altura em que rompeu com Holden Roberto, na vã tentativa de criar reformas internas, mas sem sucesso.
Ele, que já foi um dos principais colaboradores de Ngonda, por altura em que exerceu o cargo de secretário para os Assuntos Políticos, disse ainda ter sido surpreendido com a apresentação da recandidatura do actual líder do partido.
“Não sei o que terá passado na cabeça do doutor Lucas quando, em finais de Maio, apresentou a sua recandidatura”, questionou-se Miguel Pinto, para quem todos os argumentos a serem esgrimidos por Ngonda à comissão preparatória não serão aceites.