Situação dos missionários brasileiros da Igreja Universal que viram suspensos vistos de permanência em Angola está cada vez mais delicada, relatam membros da instituição religiosa do bispo Edir Macedo.
Numa conferência de imprensa realizada este sábado (17.04), em Luanda, a direção da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) acusou as autoridades angolanas de agirem de má-fé na gestão do conflito entre os pastores da Universal.
O porta-voz da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola (IURD), o bispo angolano Alberto Miapia, disse à imprensa que os advogados da congregação estão a trabalhar para evitar o expatriamento forçado os pastores e bispos de nacionalidade brasileira, acusados de práticas criminosas por dissidentes angolanos que tomaram à força alguns templos.
“A situação dos ministérios brasileiros está delicada, mas temos fé em Deus e acreditamos que esta situação será resolvida”, disse Alberto Miapia.
Situação irregular
O porta-voz da IURD em Angola afirma que o documento que dava conta da situação irregular dos missionários terá sido falsificado. O bispo Alberto Miapia diz que o Serviço de Migração Estrangeiros (SME) foi enganado pelos pastores dissidentes, que alegam ser os legítimos líderes da igreja.
“Por que o SME não investigou, ou não averiguou a veracidade do documento? O órgão devia observar que assinatura que está naquele documento não é idêntica àquela que deu entrada, [na ocasião] da vinda dos missionários brasileiros ao nosso país”.
No passado dia 8 de abril, sete pastores brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola foram notificados pelo Governo local para deixarem o país num prazo de oito dias.
A ordem foi emitida pelo Serviço de Migração e Estrangeiros angolano, que cancelou os vistos de permanência dos pastores devido à “cessação da atividade eclesiástica em território nacional”.
Disputa
A decisão se insere numa disputa pelo comando da IURD no país africano, e que se arrasta desde o final de 2019; e opõe um grupo de pastores ligados ao bispo Edir Macedo, fundador da instituição, a outro formado por pastores angolanos dissidentes.
Alberto Miapia garante que o conflito persiste entre os pastores da Universal. A reabertura dos templos não foi orientada pelas instituições judiciais, explica o porta-voz da direção da congregação.
Para a gestão de Edir Macedo, o Governo angolano está a ter um posicionamento parcial no problema interno da igreja. Segundo o bispo angolano, as declarações do ministro da Cultura proferidas na Televisão Pública de Angola (TPA) “insistiram” no conflito interno ao orientar que os dissidentes reabrissem os templos, num momento em que o litígio está sob investigação dos órgãos judiciais.
“Há uma ilegalidade. Se realmente, não conflito como diz o ministro da cultura, todos os templos estariam abertos. Mas apenas cinco igrejas estão abertas em Luanda”, disse o bispo Miapia.
A direção critica também o tratamento parcial que, segundo alega, a imprensa pública angolana está a dar na cobertura do conflito na Igreja Universal.
“O presidente do Conselho de Administração da igreja concedeu uma entrevista de 43 minutos à TPA e passou apenas menos de dois minutos. Mas, quando se trata daqueles que golpearam a igreja, dão maior cobertura.Isso nos leva a dizer que há parcialidade na abordagem do processo pela imprensa pública”, argumentou.
Fiéis
Os fiéis, na sua maioria, estão ao lado da direção da liderança de Edir Macedo. As igrejas tomadas pelos dissidentes angolanos não têm muita adesão dos membros.
Nos últimos dias, vários fiéis têm estado a realizar cultos em frente aos templos encerrados. Bispos, pastores, obreiros e outros fiéis são reprimidos pela Polícia Nacional, que há meses faz guarnição do templo sede, localizado no bairro Maculusso, em Luanda.
Já o presidente do Conselho de Administração da Igreja Universal em Angola, o bispo angolano Miguel Ferraz, diz que a violência contra os membros demonstra que existe um “conluio” entre o Governo angolano e os dissidentes.
“Quando há conflito, quem deve se pronunciar é a justiça. Somos os dirigentes legítimos da igreja. O ministro da Cultura foi infeliz no seu pronunciamento que só aumentou o conflito. Acusou revolta generalizada por parte dos nossos fiéis, que agora oram em frente às igrejas. Mas, nem isso temos o direito. Somos, infelizmente, reprimidos pela polícia”, lamentou o bispo Miguel Ferraz.
Jornalistas intimidados
A conferência de imprensa ocorreu na parte externa do templo da Igreja Universal localizado no Maculusso, que está sob vigilância de um aparato policial.
No local, a polícia angolana intimidou os jornalistas de diferentes órgãos privados que cobriram a entrevista coletiva da direção da Igreja.
Os oficiais da polícia ameaçaram “amarrar” os repórteres de imagem caso filmassem a parte externa do templo. Os policiais também não queriam que os jornalistas conduzissem entrevistas na rua onde está localizada a igreja.
“Para não ter dissabores com nenhum de vocês não façam aqui o trabalho, porque esta igreja ‘está em errada’. Então, não me façam perguntas difíceis”, disse um inspetor da polícia quando os jornalistas exigiram que o mesmo exibisse algum documento que pudesse proibir a cobertura da imprensa naquele local.