Moradores do perímetro do Novo Aeroporto de Luanda (NAIL) denunciaram hoje “realojamento forçado e detenções arbitrárias, sob ameaças e tiros de efetivos da polícia e das Forças Armadas Angolanas (FAA), após verem suas casas demolidas “sem qualquer aviso”.
Miguel Fernandes, um dos moradores da localidade, contou hoje à Lusa que o realojamento forçado dos mais de 1.000 moradores da circunscrição teve início da madrugada do passado sábado, após vários disparos efetuados alegadamente pelas forças de segurança.
“No sábado, a polícia e as FAA apareceram no local a forçar o pessoal a abandonar a área, houve muitos disparos até alvejaram um primo meu nas costas e na perna, e na medida que o povo foi fugindo os disparos eles começaram a pegar as coisas do povo”, disse.
Os bens dos populares que habitavam na zona adjacente ao NAIL, comuna de Bom Jesus, a 30 quilómetros de Luanda, ao relento desde 15 de abril após verem deitadas a baixo suas residências, foram levados numa zona que dista a 15 quilómetros do espaço.
Segundo Miguel Fernandes, os disparos alegadamente de efetivos das FAA e da polícia viram dispersar o povo, entre crianças, adultos e idosos, que mesmo há dias ao relento, não quis abandonar o local no sábado.
“Meteram (as coisas) em camiões e levaram numa área Bolomi, depois da zona do Matabeleiro, quem vai para Bom Jesus, onde levaram o pessoal e deram terrenos com uma dimensão de 5 metros quadrados e cinco folhas de chapa”, descreveu.
O morador lamentou a atitude das autoridades e afirmou que tal como foram demolidas suas residências, “sem qualquer aviso”, o mesmo mecanismo foi usado para a concretização deste “realojamento forçado e sem o consentimento do povo”.
“Foi sim o realojamento forçado, sem o consentimento do povo, o que mais deixa dúvida é que eles só fazem esse trabalho ao sábado, eles lá disseram que o Estado não vai dar casa”, frisou.
Pelo menos cinco moradores da zona estão detidos desde sábado, incluindo um dos coordenadores do bairro “porque está a ser considerado como agitador do povo”.
“Enquanto estamos apenas a discutir os nossos direitos, são cinco pessoas que foram detidas”, disse Miguel Fernandes.
Os bairros em que as residências foram demolidas, que compreendem os quilómetros 36, 38, 40 e 44, fazem parte da comuna de Bom Jesus, município de Icolo e Bengo, um dos nove da capital angolana.
Lemba Domingos deu a conhecer que as pessoas “realojadas à força” no sábado foram “atiradas no meio de um mato, sem as mínimas condições, apenas com algumas folhas de chapas”.
Víuva e mãe de seis filhos, que estão sem estudar porque até a escola dos menores não escapou do martelo demolidor, recordou que, no sábado, as pessoas correram dispersadas devido aos tiroteios na região.
“Porque houve muitos tiros, e eles (efetivos da polícia das FAA) pegaram nas nossas coisas e levaram numa zona muito distante e a situação está complicada porque ninguém nos diz nada”, atirou.
O perímetro do NAIL, onde são visíveis os escombros das residências demolidas, disse Miguel Fernandes, está desde sábado passado a ser vigiado pelas forças da ordem e segurança.
Sobre as denúncias de populares detidos e feridos, o porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, Nestor Goubel, garantiu à Lusa “apurar as denúncias para posteriores esclarecimentos”.
O ministro das Obras Públicas e Ordenamento do Território angolano, Manuel Tavares de Almeida, disse recentemente que os populares do perímetro do NAIL já haviam sido cadastrados e que o realojamento havia de abranger apenas aos que residiam no local até o início da construção do aeroporto.
O Presidente angolano, João Lourenço, visitou as obras de construção no NAIL, no passado 09 de abril de 2022, ocasião em que o ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, disse que as obras terminavam no primeiro trimestre de 2023 e que dos 1,2 mil milhões de euros financiados 40% foram já executados.
As obras de construção do NAIL tiveram início em 2007 e o seu processo de certificação deve começar em junho próximo.