As alegações no julgamento do presidente do autodenominado Movimento Protectorado da Lunda Tchokwé, José Mateus Zecamutchima, está suspenso à espera da decisão do juiz para a apresentação das alegações finais. Confrontos foram há um ano e julgamento do líder do Movimento está próximo do fim.
O julgamento do líder do movimento que, segundo o Governo de Angola, está por trás dos confrontos entre a Polícia Nacional (PN) e manifestantes a 30 de Janeiro de 2021, dos quais resultaram entre seis e 30 mortos, segundo diversas fontes, levanta outra vez as inquietações sobre as origens e responsabilidades nos incidentes mortais daquele dia.
O activista e jornalista, Rafael Marques, no seu novo livro sobre os acontecimentos, afirma que “movimentos independentistas naquela região não têm legitimidade” e que os que reivindicam a autonomia das províncias das Lundas não trazem benefícios à população local.
As conclusões de Marques, depois de uma investigação no terreno, têm merecido, no entanto, uma forte resposta dos líderes do movimento, com o secretário-geral, Fiel Muaco, a acusar o jornalista de pedir protecção aos sobas para chegar à Presidência da República mas, por ter sido rejeitado, virou-se contra os lundas.
A obra “Miséria & Magia” expõe a forma como o contexto de pobreza na província rica em diamantes, em que nove em cada 10 pessoas são pobres, e a ausência do Estado contribuíram para a radicalização dos manifestantes que, a 30 de Janeiro de 2021, “avançaram contra a polícia convictos de que a magia os protegeria das balas”.
Rafael Marques estabelece uma cronologia detalhada dos acontecimentos e descreve como os rituais de magia e “preparações botânicas” revelam “uma prática de mobilização e controlo de massas, de incitação à violência e de tomada de poder político através de uma justificação tradicional”.
As conclusões do jornalista não agradaram os líderes do movimento, com Fiel Muaco a dizer “admirar como é que Rafael Marques mudou drasticamente”.
“Nós somos uma organizaçao que defende o direito da região das Lundas e nunca o Governo angolano vai nos reconhecer, tal como os movimentos que lutaram para independência de Angola”, lembra aquele activista.
“Quanto ao livro que publicou por alí, primeiro estava mesmo aqui no território das Lundas, a mim mesmo já me contactou por via telefónica, não só eu, também outras pessoas que fazem parte desta organização, já me conquistou no sentido de deixar isso, dizendo que você tem filhos para criar eu já tenho com quem falar”, contou Fiel Muaco, que classificou de “infeliz” a obra de Rafael Marques.
“Rafael Marques apareceu a dizer isso por fúria porque quando teve o problema na justiça foi Muana Capenda Camulemba quem o defendeu, na mesma altura pediu ao “rei” Muana Capenda para que lhe fizesse michorda para disputar a cadeira máxima do país, a Presidência da República”, conclui Muaco.
A VOA contactou diversas vezes Rafael Marques que se escusou a pronunciar, bem como um assistente dele, Salvador Fragoso, quem, num breve contacto, disse temer represálias do povo das Lunda por ser uma situação bastante complexa.
O livro foi lançado em Português em Outubro e agora está disponível em inglês.