O MPLA, no poder em Angola, negou hoje inexistência de diálogo entre as lideranças partidárias e a sociedade, afirmando que as forças políticas “dialogam regularmente no parlamento”, defendendo “mensagens de tolerância e respeito mútuo” em ano eleitoral.
“Porque o diálogo entre as forças políticas é feito no parlamento, onde as forças políticas negoceiam os vários projetos de lei, e tem havido muito diálogo e só para dizer que neste mandato, apesar da maioria qualificada que o MPLA tem, mais de 90% das leis são aprovadas por consenso”, afirmou Mário Pinto de Andrade, secretário do bureau político do MPLA para a Reforma do Estado, Administração Pública e Autarquias.
Para o político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) o propalado vazio de diálogo entre as forças políticas “não existe” e o parlamento angolano, que congrega cinco forças políticas, “confirma isso”.
Pinto de Andrade falava no âmbito da uma conferência magna alusiva aos 12 anos da Constituição da República de Angola (CRA) de 2010, em Luanda, onde representou a vice-presidente do seu partido.
Segundo o político dos “camaradas”, todos os partidos políticos angolanos, “particularmente o MPLA, têm feito este diálogo através de palestras, conferências, comícios e encontros com várias sensibilidades”.
“Agora, as pessoas, não podem dizer que o diálogo, às vezes como se apresenta, só funciona se houver diálogo entre o presidente do MPLA e presidente da UNITA, acho que não é isso porque a sociedade angolana é muito mais do que isso”, disse aos jornalistas.
Os bispos católicos angolanos consideraram, na passada semana, que se verifica em Angola um “perigoso vazio de diálogo” entre “governantes e governados” e entre as lideranças partidárias, o que “eleva o radicalismo e intolerância”, num contexto de “assustadora” pobreza.
Na abertura da primeira assembleia plenária ordenada da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, o presidente da organização, José Manuel Imbamba, afirmou que há, em Angola, uma “evidente degradação dos hábitos e costumes do comportamento social, das atitudes e do civismo” e verifica-se “um perigoso vazio entre os governantes e governados, entre as lideranças partidárias e entre os vários atores cívicos”.
“Elevando ainda mais os níveis de ansiedade, de radicalismo, intolerância, indisciplina, violência física, verbal, moral e psicológica”, afirmou o prelado na abertura da assembleia que decorreu até 07 de fevereiro, na província angolana de Benguela.
O também deputado exemplificou a conferência sobre os 12 anos da CRA, que contou com a presença de representantes de várias forças políticas do país, para justificar a existência de diálogo entre as lideranças partidárias.
“E isso mostra que a sociedade dialoga, agora que é preciso, no quadro do processo eleitoral, haver uma mensagem de tolerância, de respeito pelo outro, de não andarmos a incendiar os bens públicos, aí estamos de acordo e este é um discurso que todos os partidos têm de ter”, frisou.
O responsável partidário, que fazia alusão aos incidentes de 10 de janeiro, na sequência da greve dos taxistas, que resultou na vandalização de um edifício de um comité do seu partido e de um autocarro público, defendeu também um “diálogo para a preservação dos bens públicos”.
“Porque não se percebe que o Governo põe autocarros para os cidadãos e depois há forças estranhas, que levam os jovens a serem mobilizados, para queimarem autocarros novos, que custou o bolso de todos os contribuintes, então, também, é preciso termos esse diálogo para o bem da nossa nação”, concluiu Mário Pinto de Andrade.
Angola realiza na segunda quinzena de agosto as próximas eleições gerais, conforme estabelece a CRA revista em 2021.