O dirigente socialista João Soares criticou hoje a “manobra política” que levou à anulação do XIII Congresso da UNITA e destituição do presidente eleito, que atribuiu ao medo que o MPLA sente da popularidade de Adalberto da Costa Junior.
João Soares, que se encontra em Luanda para o último dia do XIII congresso da UNITA em que será eleito um novo presidente, sendo Adalberto da Costa Junior (ACJ) o único candidato, traçou um retrato negro de Angola, salientando que a educação, saúde e condições sociais têm sido descuradas pelo MPLA, partido que governa Angola desde a independência, em 1975, e que, diz, tenta a todo o custo “manter-se no poder”.
O antigo deputado e ministro socialista, que tem uma ligação histórica à UNITA e aí mantém “muitos amigos”, disse à Lusa que não tem partido fora do PS, mas fez questão de estar presente hoje por se tratar de um “processo especialmente importante” que “resolve uma questão totalmente artificial” que serviu para “obstaculizar a eleição democrática e genuína de ACJ como novo líder da UNITA.
João Soares aludia ao Acórdão N.º 700 do Tribunal Constitucional que, em outubro, ditou a anulação do XIII Congresso realizado em novembro de 2019 e no qual foi eleito ACJ, dando razão a um grupo de militantes que alegou irregularidades, entre as quais a nacionalidade portuguesa do dirigente da UNITA na altura em que entregou a sua candidatura.
“O problema do MPLA é que eles ficam assustados com a popularidade de ACJ e deixou de haver medo de exprimir simpatias”, apontou o político português, filho do fundador do PS e antigo Presidente da República Mário Soares, sublinhando que “a alternância tem de ser construída com a oposição”, sendo a UNITA, na sua opinião, o único partido com “uma dimensão nacional” capaz de alcançar este objetivo
Do congresso, espera que saia “uma liderança ainda mais reforçada” de ACJ, depois de o partido ter feito face “serenamente” a uma manobra para “pôr fim a uma liderança que assusta o MPLA”.
“Há aqui um problema profundo. Eu não tenho partido fora de Portugal, mas tomo partido nas questões que têm a ver com a liberdade a democracia e os direitos humanos fundamentais”, disse o ex-deputado, lamentando que o poder em Angola seja “completamente monocolor”, com o mesmo partido a governar há 46 anos e questionou “será que a UNITA já perdeu algumas eleições?”.
O socialista afirmou que a alternância seria a prova de “maioridade democrática” num país que “ainda não viveu eleições livres e justas” e acrescentou que a UNITA enfrenta “uma das maiores máquinas de propaganda do mundo, com recursos praticamente inesgotáveis”
Lamentou também que Angola seja um dos países com maior nível de corrupção no mundo, que perdura, apesar do “drama shakespeariano” que envolve o atual presidente angolano, João Lourenço, e a família do seu antecessor, José Eduardo dos Santos, numa alusão aos casos judiciais em que estão envolvidos alguns dos seus filhos
Sublinhou a este propósito que os quadros do MPLA se distinguem dos da UNITA por que ”sempre foram muito sensíveis aos estímulos materiais” e acusou o MPLA de querer “agarrar-se definitivamente ao poder, seja quem for que o dirija”.
Criticou também que nestas mais de quatro décadas de “poder exclusivo” e apesar do “álibi da guerra, que acabou há 20 anos, o MPLA não tenha resolvido os problemas da educação, “muito aquém do desejável”, da saúde publica, que é “lamentável”, e da segurança social “lastimável”, num país rico em recurso naturais que “foram delapidados”.